Muitas cidades, mundo afora, nasceram e se desenvolveram em torno de feiras. Feira: ajuntamento de gente vendendo e comprando, e passeando, vendo passar, especulando, xeretando.
Bem que Porto Alegre podia ter sua história reescrita para caber nessa ideia: uma cidade que vive por causa de uma feira. Certo, não é a verdade histórica — o nosso velho e lindo Mercado Público até pode figurar nessa posição.
Mas não importa: estamos no reino da imaginação.
Faz de conta que Porto Alegre existe para, a cada ano, renovar a esperança na vida ao fazer sua Feira do Livro. Na praça da Alfândega, não num galpão fechado, não num shopping isolado — na praça, com gente desigual, com cachorro, com chuva e vento.
Agora, com a patrona Marô Barbieri — salve, salve, Marô! Professora de longa estrada, escritora atenta aos pequenos, mulher de presença pública positiva em umas quantas jornadas!
E os livros, que são tudo o que no fim das contas interessa.
Eu deixo aqui apenas uma recomendação, mas papa fina, coisa realmente inventiva, bem pensada e muito bem escrita: o Magrafo – Dicionário de Palavras Inexistentes (editora Tomo), de Diego Lops.
Não é pouca coisa: dicionário de palavras já existentes a gente sabe como funciona, até mesmo de palavras apenas faladas. Mas de palavras que não existem?
O que o Diego fez é o que um grande cronista faz: sacou que há momentos, sentimentos, sensações, cenas que a gente vive mas não sabe designar. Então ele flagrou o caso, descreveu-o e deu um nome.
Na real, o nome, o leitor vai ver, é até secundário – o que realmente é matador é o diagnóstico. (Mas depois disso se vê que o nome foi um acerto!)
Chibaz: cheiro de grama molhada de chuva de verão.
Chunance: sensação de voltar de um devaneio e perceber que seu interlocutor continua falando como se nada tivesse acontecido.
Não é?
Dicionário que é crônica de costumes e poesia, tudo ao mesmo tempo agora.