Parece que são as editoras universitárias que se preocupam com livros sobre música brasileira. Alguém pode até dizer “claro, só os acadêmicos se interessam...”. Mas não é verdade. Há muito que se pode aprender sobre cultura social brasileira, incluindo a música de concerto, em livros que se preocupam em fugir do lugar-comum sempre repetido como verdade.
Ainda há pouco a editora da Universidade Federal de Minas Gerais lançou um livro monográfico sobre Tom Jobim, Maestro Soberano. Agora a editora da Universidade Federal do Paraná lança um sobre Villa-Lobos. Geralmente, se fala “Tom Jobim/Villa-Lobos” numa mesma frase. Mas Tom e Villa são de sociedades diferentes, de culturas quase incompatíveis entre si. Há uma distância grande entre eles, maior do que o lugar-comum faz supor.
Villa-Lobos: Um Compêndio é um passeio de quase 500 páginas sobre tudo aquilo que se descobriu sobre a música de Villa-Lobos desde as suas biografias de 30 anos atrás. Para o leitor interessado, há muito que ler, especialmente as novidades saborosas da primeira metade do livro. Em seguida, o especialista também não se sentirá desamparado – há muito de conhecimento universitário espalhado ali e que pode ser desbravado ao som de Villa-Lobos.
Para ouvir Villa-Lobos não é necessário ir longe. Agora mesmo a sinfônica de São Paulo, a OSESP, está concluindo a gravação e o lançamento dos últimos volumes das sinfonias do Villa, da primeira à 12ª e pulando a quinta, que está perdida. Aí está um repertório decididamente fora do usual, bem além do que se ouve em concerto. É música brasileira de concerto do século passado e da melhor qualidade.
Com Villa-Lobos: Um Compêndio e a integral das sinfonias, parece que há uma certa renascença Villa-Lobos no ar. Se for assim, aí está a melhor maneira de livrar o compositor do seus mal-entendidos e ouvi-lo com a imaginação do século 21, tão acostumado às misturas de músicas e estilos, coisas nas quais Villa-Lobos era mestre.