E o jantar foi uma delícia. O papo foi ótimo. Quando você está com um bilionário, não é que você precisa ficar calado, mas é bom ouvir histórias de quem tem um avião – ou melhor – um serviço de aviões que ligam pontos cardeais ao seu dispor.
Ele até queria me ouvir, mas mostrei logo que tudo na minha vida era desinteressante. Eu não fui numa festa com a Rihanna. Nem tenho uma primeira edição de Brás Cubas assinada por Machado.
Nunca sentei no mesmo camarote do Federer e nem fui convidado por um banco para ter um cartão de lata. O cartão faz barulho. Mas estou sendo pobre (de espírito), porque lá pelas tantas a conversa enveredou para as angústias de um bilionário.
Já liguei o botão de “lá-vem-esse-mala-reclamar-dessa-vida-de-magnata”. Mas ele desligou o botão com uma lamúria que emudeceu a sala: ele tinha medo de não ter amigos e morrer só.
Lembrei da enfermeira de cuidados paliativos australiana Bronnie Ware. Ela escreveu um blog com o que ouviu de quem estava morrendo em seus últimos meses, dias ou horas. O blog virou um livro best-seller e os cinco principais arrependimentos são: 1) “Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida fiel a mim mesmo, e não a vida que os outros esperavam de mim”. 2) “Gostaria de não ter trabalhado tanto”. 3) “Gostaria de ter tido coragem de expressar meus sentimentos”. 4) “Gostaria de ter mantido contato com meus amigos”. 5) “Gostaria de ter me permitido ser mais feliz”.
Ué? Cadê a grana? Por que ninguém falou “gostaria de ter tido mais grana”? Ou um podre de rico falando “eu queria ter tido o dobro de dinheiro que fiz na vida...”.
Vamos lá: 1) Quem se importa com os outros tem poucos outros em volta. 2) Quem trabalha muito não se diverte e, portanto, amigos não há. 3) Quem não expressa sentimentos corre os outros da volta. 4) Não quis manter contato com os amigos? Eles zarparam, e tchau pra ti. E, finalmente: 5) milhares de pesquisas apontam que para ser feliz, mas feliz mesmo, só com amores e amizades firmes por perto.
Nosso bilionário tinha razão. O dinheiro que tudo compra não negocia amigos reais. Ele que se cuide. De nós aqui, alerta: porque não é só bilionário que pode morrer solitário.