Todos iremos, não há saída. E cada vez ficamos mais tempo no planeta. A dor da morte vem na interrupção abrupta. No acidente. No fim precoce. Ou por forças externas. Foi o que aconteceu com pessoas na enchente mortal que veio e ainda assola o Estado do Rio Grande do Sul — e afetará ainda por anos, basta vermos outros locais do mundo que penaram a mesma dor. Os números atestam a tristeza. E o bem maior, a vida, foi o que quase 200 pessoas perderam no sul do país.
Mas o que acontece quando a gente morre pode abrir discussões e discursos dependendo da área que você for discutir. Se for na religião, teremos algo. Se focarmos na biologia, teremos outra resposta. Mas se focarmos na vida, a de todos os dias, aí temos a maior verdade de todas.
Quando a gente morre, alguém que nos ama fica triste. A resposta é tão curta, ríspida e doce ao mesmo tempo que consegue acalentar e mostrar o verdadeiro porquê de existirmos. E ele é: ser amados. Centenas de familiares, milhares de amigos e milhões de brasileiros ficaram estarrecidos, contando mortos das águas. Os mais próximos, aqueles que amavam, estão com o aperto maior na garganta, no coração e na alma.
Esses entes, amigos próximos terão essa dor até os seus fins. Até as suas despedidas daqui. E, nesse exato momento, junho de 2024, a dor vem junto com o desespero.
E tem vezes que as duas coisas acontecem no momento derradeiro. Como a família que, antes de morrer em um deslizamento, em Roca Sales, no Vale do Taquari, se abraçou. Quatro pessoas, abraçadas, acarinhando-se desesperadas... assim... faleceram.
Repito essa tragédia familiar porque ela aconteceu há quase dois meses. Repito para não esquecermos do que o excesso de água e nosso despreparo para barrá-lo ainda ocasiona. Repito para lembrar que essas pessoas que morreram abraçadas no deslizamento de terra deixam quem as amava dolorido e destruído aqui.
Porque o que acontece depois que a gente morre é que quem nos ama vai sentir imensa e dolorosamente a nossa falta.