Nunca, mas nunca mesmo, duvide da capacidade de uma criança de entender o que está acontecendo em volta. O palhaço bom é o que faz uma criança rir. O “eu te amo” mais verdadeiro é o de um garotinho ou garotinha.
Conquistar a atenção desses seres é algo hercúleo nos dias atuais com telas e mais telas. Se eles lhe olharam, vá fundo, viva o momento, aproveite, porque pequeninos são sinceros demais. E apareceu para mim uma história que ratifica esse fato.
História que recebi de um pai. Ele estava numa reunião de pais e mães na escola. Aquelas que você vai provar se é um bom ou mau pai. Porque estar perto da educação das crianças é aquilo de “você não faz mais do que a sua obrigação”.
Na tal reunião, alguém pergunta o que a tragédia da enchente do Rio Grande do Sul afetou a sala de aula. A escola estava intacta, a cidade estava sofrendo, as aulas foram canceladas nos primeiros 10 dias do caos e as crianças estavam de volta.
A meta dos professores era proteger os alunos. Não trazer as dores para uma sala que existe para alfabetizar. A vontade da professora, nesse caso, era tratar do lado lúdico da vida.
Voltemos à pergunta de um dos pais. Porque ela foi respondida pela professora de pirralhinhos de quatro e cinco anos de idade. Ela falou que não era o intuito falar das águas. Mas as próprias crianças começaram a perguntar. Todas assustadas, curiosas e tristes.
A professora então pediu para eles desenharem os seus sentimentos do momento. E uma das crianças fez o seguinte:
Um triângulo sem a base. Abaixo, riscos ondulares. Agora pinta o meio desses riscos de marrom. Pronto. Era só o teto de uma casa submersa na água fétida e marrom que devastou dezenas de cidades do Rio Grande do Sul.
Uma criança de quatro anos entendendo, depois de tanto ver na TV, tablet, de ouvir no rádio do carro, de ouvir pais e amigos dos pais conversando que, no Estado, o desenho de uma casa era, naquele momento, um pedacinho de um teto.
Elas, as crianças, estão ligadas em tudo. E sentem tudo. Do jeitinho delas, mas sentem. Nunca duvide da capacidade delas de compreender o mundo.