Lembra que um dia contei que depois de anos eu voltaria para casa para almoçar? E que a razão era ter esse momento com os meus dois filhos? Bom. Descobri um novo mundo. O mundo dos caras que com quatro e seis anos não querem desgrudar dos eletrônicos, que nós mesmos demos. E demos porque queríamos paz. Um tempinho para respirar enquanto eles ficam no YouTube, joguinhos, virando viciados em dopamina.
Telas de tablets e celulares são máquinas imparáveis de jogar na sua cara estímulos rápidos. Essa insanidade toda de curtir, passar para o outro vídeo, voltar, procurar algo, ficar brabo, dar like, receber like, não receber tantos como antes, e por aí vai, são explosões de dopamina no cérebro.
E a dopamina é o que te dá a sensação maravilhosa de prazer, satisfação, felicidade, deleite. E ela vicia! E esse vício, esse looping, é um perigo para a saúde da criança – e para você, adulto, também, mas quero focar no meu almoço em casa e a briga para eles comerem SEM telas na frente.
A lógica científica é a seguinte: a busca intermitente por dopamina nas telas atrapalha o desenvolvimento de algo que a vida real dará. Lidar com frustração. Uma notícia ruim na vida real não tem como passar para outro vídeo. Não tem como fechar o tablet e esquecer. E para as crianças é pior ainda. Porque tem a ver com a chamada maturação cerebral.
O cérebro vai se estabelecendo conforme os anos vão passando. Se você inunda o da criança de bombas de estímulos rápidos que saem dos tablets e celulares, isso afeta o desenvolvimento do cérebro. E a consequência é atrapalhar a capacidade de concentração. E isso você leva para a vida adulta. É um horror!
O que fazer? Ser pai e mãe, ora. Impor limites. Limite de tempo nas telas. Limite de uso em certos lugares – na mesa na hora do almoço não. Definitivamente não. Fazer coisas reais com eles! Mostrar como são legais brinquedos reais, jogar bola, dançar, correr, se destrambelhar. E outra: ficar sem fazer nada. Ócio. Vagabundagem. Todo mundo atirado, sem telas, TV, notificações, barulhinhos.
O problema da minha casa e do meu almoço é que as telas são mais importantes que feijão com arroz, no fundo, na verdadeira verdade, sou eu. Porque não largo o celular. Sou um péssimo exemplo.