Você já leu que as pessoas estão "lacrando". Sim, esse é o verbo mais importante na vida atual brasileira. Porque as pessoas não pensam em outra coisa além de lacrar. Lacrar é fazer algo inusitado, algo que até podemos dizer que é legal. Algo que prove que eu – usarei um palavrão – sou foda. O problema é que a humanidade inteira só quer lacrar.
Uma das maiores novidades da história da humanidade é a rede social. Facebook, Instagram, Twitter e até grupos de WhatsApp são os megafones. Com eles, todo mundo tem voz. Ou seja: chegamos à era da democracia total. Todas as vozes são ouvidas (menos em ditaduras, porque ditadura é ditadura. Se você lacrar lá, lacram a sua vida num caixão).
Com redes sociais falamos, gritamos, xingamos e, agora, só há uma busca: lacrar. Isso arrebentou com o mais lindo dos sentimentos humanos: a naturalidade. Ninguém mais é natural. Todos os pensamentos, todas as postagens, stories, fotos, gritos são focados em lacrar. Eu nem acredito muito nisso, mas preciso fazer algo que comentarão. Eu nem acho que essa pose para foto faria naturalmente, mas preciso de comentários. Somos alimentados por likes, bebemos elogios, na sobremesa é número de seguidores.
As redes sociais, as coisas mais legais do mundo moderno, as armas contra governos corruptos e / ou despóticos, toda essa artilharia usada para egos. Para lacrar. Para aparecer por aparecer. No novo mundo todo mundo é modelo. Como toda revolução, teremos um preço. Uma sociedade na base da lacração, na base do "necessito aparecer" é tudo, menos sadia.