
Meu filho, dias desses, se agarrou nas minhas pernas quando chegamos a um local desconhecido. Se escondia atrás de mim. Bom ou ruim?
Bom. Muito bom. Teoria do Apego? Já ouviu falar? Proposta por John Bowlby, sugere que a ligação emocional entre pais e filhos é fundamental para o desenvolvimento saudável. Estudos mostram que crianças que têm uma base segura com seus pais tendem a explorar o ambiente de forma mais confiante.
Os picorruchos se escondem para observar, mapear e ouvir os estranhos primeiro para, depois, “atacar” o ambiente e crescer nele. Além disso, esse agarre na calça do pai ou da mãe pode ser segurança, como um leãozinho atrás da leoa, conforto emocional ou, mais simples ainda, algo muito natural: timidez.
Corta para meu filho agarrado em mim. Eu, a trincheira. A torre de observação, o farol. Ser pai me deu esse presente. Todas as minhas buscas ególatras sempre foram patéticas. Porque bastou colocar filhos no mundo para entender que o ego pode ser bom.
Eu me tornei o super-herói. O protetor, o musculoso, o charmoso superstar dos meus filhos. Eu sou o foda, o monstro do bem, o Bumblebee, o homem mais poderoso do mundo. Para dois moleques. Só para eles. Mas mete esse “só” entre aspas. Porque o meu mundo está ali.
E, quando meus filhos crescerem, eles entenderão que, na verdade, o pai deles não tinha superpoder algum. O pai deles era, na época em que se escondiam atrás das minhas pernas, um ser humano cheio de incertezas, dúvidas e fraquezas que qualquer briga perderia. Mas, por ironia total, é o melhor que posso fazer. Não sou o manual de instruções do mundo para eles. Na verdade, quero aprender ao lado deles.
Eles são os causadores de eu ter me apaixonado perdidamente por tentar entender como tudo funciona. Porque não é fácil ser aquela perna protetora dos filhos. Essa perna, cheia de coração, precisa ser rápida, forte e esperta também. E, de preferência, abarrotada de incertezas para serem resolvidas por nós três, meus filhos…