A negativa do Ballon D'Or a Vinicius Junior mostra que o mundo se recusa a enfrentar o racismo. Mais, que o futebol, dentro de seu conservadorismo, se recusa a encarar essa chaga e abrir caminho para acabar com 500 anos de atraso. Perdemos todos com a derrota de Vini.
Incomoda o mundo ele enfrentar os racistas. Incomoda mais ainda ele usar a voz potente que tem por ser um ídolo do maior clube do mundo. Incomoda Vini não fazer como tantos outros astros negros dotados da magia do futebol que, em vez de gritar, baixaram a cabeça ou sofreram em silêncio para evitar o confronto. Vini encarou o sistema. E o sistema joga pesado.
Rodri é um jogadoraço. Sou fã dele, do que ele faz em campo, da sua qualidade. Sou fã do estilo low profile, do cara que foge o padrão do boleiro, que se formou em administração e cursou os últimos semestres já no City. Rodri é tão diferente que fez questão de morar numa república de estudantes quando jogava na Espanha, para ter essa experiência de vida real.
Rodri é um personagem e tanto. Mas até ele sabe que não pelo seu combo que ganhou. Foi pelo combo de Vinicius. O Bola de Ouro é eleito por 100 jornalistas, cada um deles de um dos 100 primerios países do ranking da Fifa. Há uma europeização muito forte do futebol. Boa parte dos países que não estão no continente consomem as principais ligas dele. E as transmissões e suas repercussões. Como Vini incomoda muito, pela forma como se porta, é pintado como provocador. O que se esquece é de que Vini não age, reage. O mundo se acostumou a ver os grandes atletas negros apenas darem o show e sorrirem. Mesmo ouvindo o que não deveriam.
Vini dá o show e pede respeito. Pede igualdade, liberdade e fraternidade, as mesmas que estão no lema de uma França que, nesta terça, serviu de palco para uma das mais tristes tardes dos nossos tempos. Não porque Vini perdeu um troféu de melhor do mundo. Mas porque o mundo deixou de mostrar que quer ser um lugar melhor.