Rebeca de Ouro Andrade. Rebeca do Brasil, a cara do Brasil. A filha da empregada doméstica que começou na ginástica em projeto social se tornou o atleta com o maior número de medalhas na história desse país. Superou Robert Scheidt e Torben Grael, os nossos monstros da vela.
Rebeca é um daqueles fenômenos que brotam em um país que teima em ser monotemático quando se fala em esporte, que enxerga o mundo como se ele fosse bola de futebol, que trata o segundo como o primeiro dos últimos.
Que não sabe levar na esportiva. O Brasil tem vasto potencial olímpico pelas características da nossa população, pela mistura de raças que está na nossa formação. Mas, para potencializá-lo, é preciso criar oportunidades.
Aqui está uma relação ganha-ganha. Quem investe em esporte ganha. Seja o setor público, porque esporte é saúde, educação, inclusão, segurança. Seja o privado, pelos incentivos fiscais de programas governamentais. Mas quem ganha mais ainda somos todos nós. Porque o esporte salva, socializa, cria perspectivas e oferece um novo mundo.
Em meio à entrevista concedida para a Alice Bastos Neves, lá na zona mista da Bercy Arena, a Rebeca resumiu em uma fase o quanto pode ser saudável, em todos os sentidos, a criação de uma política de esporte que abranja a sociedade em todas as suas frentes, que são muitas:
— Que as pessoas sigam apoiando o esporte, ele muda a vida. A ginástica mudou a minha.
Há centenas, milhares, de Rebecas e Bias Souzas, as nossas mulheres de ouro, escondidas nesse Brasil continental e só à espera de uma oportunidade. Nossas crianças querem uma chance só. A Olimpíada, a cada quatro anos, joga na nossa cara que carecemos de um projeto, que vivemos de exceções e fenômenos.
Esporte e educação, o modelo americano. Não há como errar. Rebeca e Bia mostraram que é possível. Elas são as caras de um Brasil para as quais o Brasil geralmente vira a cara. Mas elas são tão fortes que nos obrigam a enxergá-las. E esfregam na nossa cara o quanto desperdiçamos talentos. Ou não queremos aproveitá-los.