Na noite deste sábado (31), Botafogo e Fortaleza se enfrentam no Estádio Nilton Santos pela liderança do Brasileirão. Há uma lista de duelos nesse jogo: dos dois melhores times do campeonato, dos dois técnicos mais incensados pelo campo, de dois modelos de SAF exitosos, mas totalmente distintos entre si. Um movido a milhões de euros injetados pelo milionário dono estrangeiro e o outro alicerçado em trabalho de longo prazo que exala ao mercado confiança em sua gestão.
Se o Botafogo viu em John Textor a salvação da insolvência, o Fortaleza busca em potenciais John Textors parceiros para lucrarem juntos. Desde que eles tenham muito claro de que serão minoritários.
O fato é que o Fortaleza conquistou algo raro quando se fala em gestão no futebol brasileiro: confiança. Quem chegar com dinheiro para colocar no clube estará pondo as fichas em um projeto sólido e com resultados financeiros extraordinários.
O campo é só consequência do trabalho feito fora dele. Muito bem feito. Há sete anos, Marcelo Paz assumia a presidência de um clube na Série C, que havia perdido o jogo do acesso dentro de um Castelão lotado nos três anos anteriores, para Macaé, Brasil-Pel e Juventude. O acesso no final de 2017 encerrou um inferno de oito anos na Série C.
Paz já era dirigente em 2015 e 2016. Ou seja, sua eleição para presidente manteve o mesmo grupo político e garantiu continuidade. Desde 2018, ele acelerou processos de gestão, adotou modelos profissionais e fez o Fortaleza sair de coadjuvante a referência. A receita multiplicou-se por 15. Era de R$ 24 milhões em 2017. Fechou em R$ 371 em 2023. Em setembro, o clube aprovou a criação de sua SAF. Paz é o CEO, e um dos seus vices assumiu a presidência da associação. Ou seja, o mesmo grupo comanda o clube e a SAF.
Os títulos são a parte mais visível do sucesso, com o penta estadual e o bi da Copa do Nordeste, além do vice da Copa Sul-Americana, perdida nos pênaltis, em 2023. Além disso, há as participações na Libertadores e os seis anos seguidos na Série A, recorde no Nordeste. Porém, há um antes nos gabinetes que abastece esse sucesso esportivo.
O Fortaleza investe tudo o que ganha. Nesses sete anos, o clube reformou e ampliou o CT do Pici. Também finalizou a construção do CT Ribamar Bezerra, em Maracanaú. Essa obra foi acelerada com parte do dinheiro recebido pela venda de Cebolinha ao Benfica. Os investimentos no CT do Pici também se estenderam à área de saúde, para melhorar a performance dos jogadores, e em softwares e pessoal para aumentar a precisão nas contratações.
Juan Pablo Vojvoda, por exemplo, foi buscado em 2020 porque tinha o perfil adequado. Tinha trabalhado em clubes com as mesmas características na Argentina (Talleres e Defensa y Justicia) e no Chile (La Calera) e usava modelo de jogo agressivo.
O processo de contratação de Vojvoda mostra bem como funciona o clube. Ele foi entrevistado e, no período de conversas, recebia links dos jogos do time para ver ao vivo e passar suas impressões. Em paralelo, o clube buscou informações dele com contatos no Chile. Vojvoda chegou e se integrou tanto que já recusou uma porção de propostas. Ali, ele tem tudo do que precisa: estabilidade, mesmo que o resultado tarde a chegar, nenhum risco de cair porque perdeu o Estadual para o Ceará, como neste ano, e um grupo de jogadores homogêneo, que o permite rodar o time.
Neste ano, conforme levantamento do UOL, o Fortaleza já fez o equivalente a duas voltas ao mundo em viagens. O clube passou a usar voos fretados e passa o menor tempo possível na sede dos jogos. Além disso, fez investimentos em equipamentos de ponta para acelerar a recuperação dos jogadores. O Fortaleza é o clube da Série A com mais jogos em 2024, 56, um a mais do que o Botafogo. Tudo isso sem perder performance. Tudo baseado na ciência e na gestão. O que só mostra que, no futebol, nada é à toa.