Há 20 dias, Luís Vagner Vivian, 42 anos, dorme e acorda envolvido com o Grêmio e a reestruturação do departamento de futebol. Depois de oito anos na CBF, cuidando da logística e da organização da Seleção Brasileira fora de campo, o gaúcho de Caçapava do Sul desembarcou de volta no Grêmio para uma nova etapa em sua carreira.
Luís Vagner é o novo executivo de futebol de um clube em processo de reorganização e implantação de novas metodologias. Nesta conversa, ele esmiúça a forma como será formatado o departamento de futebol e antecipa que a distância entre o CT e Eldorado será encurtada.
Como está sendo essa transição de carreira, assumindo como executivo de futebol?
Na CBF, entrei numa área de logística e supervisão. Fui migrando, fui ficando com a área do futebol, no planejamento da Seleção principal. Quando fiquei sozinho, com a saída da pessoa que me auxiliava, puxei o Hamilton (Corrêa), que passou a cuidar da logística. Fui promovido a gerente do planejamento. Trabalhava no planejamento global da Seleção. A parte técnica era liderada pelo Tite, a parte gerencial e organizacional era comigo. Acima, havia o Juninho (Paulista), como coordenador. Em resumo, o Tite liderava a parte técnica, a parte operacional, com todo o resto, era comigo.
O que essa experiência na CBF trouxe para essa nova etapa na tua carreira?
Essa passagem de oito anos lá foi me possibilitando ver muito da gestão, da organização. Organizamos muitos processos na CBF. Não havia nada quando começamos. Deixamos um legado, um manual de gestão para o Departamento de Seleções. Ali tem atribuições, funções de todos, organização dos eventos e nos períodos de convocação, o que é preciso se fazer no ciclo de um evento, prazos, orçamentos. Todo o processo de gestão de uma empresa que fomos criando lá dentro. Deixamos algo para que quem chegue possa dar continuidade. Esse novo profissional terá bastante trabalho economizado.
O torcedor resume a função do executivo a contratar. Explica um pouco dessa função.
O executivo, basicamente, é o responsável pelo gerenciamento de todo o departamento de futebol, com o vice e o diretor. Faço planejamento operacional de todos os controles, toda a parte de gestão de várias áreas. Subdividimos o departamento. Aliás, ainda estamos trabalhando na produção de um organograma. São seis grandes núcleos interligados: parte operacional, administrativa, comissão técnica, categorias de base, núcleo de ciências, saúde e performance e o núcleo de desenvolvimento, que é um setor que interage com os outros. Tudo é uma engrenagem única. Cada área tem um líder, seja coordenador ou supervisor. O executivo gerencia tudo isso. É um facilitador do trabalho dos outros.
Onde entram as contratações, o tema que mais seduz os torcedores?
Contratar é uma das atribuições da área de desenvolvimento, com os analistas de mercado. Já tínhamos esses profissionais, mas estamos potencializando isso, melhorando os processos. Nosso viés é otimizar o processo de contratações, para errar o mínimo possível. O erro sempre acontecerá, estamos trabalhando com o ser humano. Quando se trabalha com o ser humano, é difícil acertar 100%.. A meta é ter equilíbrio técnico e manter a saúde financeira do clube. Um clube precisa seguir essa fórmula para evitar algumas coisas que ocorrem no futebol.
O CDD, Centro de Dados Digitais, faz a análise de mercado?
O CDD faz parte da comissão técnica. Apoia diretamente o Renato (Portaluppi), os auxiliares, o treinador de goleiros. Os analistas de mercado vão trabalhar no núcleo de desenvolvimento e estarão muito ligados à base. Temos de estar integrados com Eldorado do Sul. Se vai ao mercado pesquisar algum jogador, primeiro tem de ver em casa. A ideia é fomentar a base. Os clubes brasileiros são grande formadores. Outro ponto é que, nessa formação de atletas, temos vários jovens que acabam sem espaço no grupo principal. Mas são ativos do clube. Um dos nossos objetivos é melhorar a recolocação deles no mercado, através de empréstimos ou parcerias, monitorando-os, para trazê-los de volta.
Qual o projeto para promover da base sem o time de transição?
Temos feito muitas reuniões com o pessoal da base. Quando cheguei ao clube, havia se encerrado o time de transição. Ficou um gap. A formação trabalhava na base até os 20 anos, e esses meninos tinham três anos para fazer a transição. Com o término da categoria, ficou essa lacuna. Os meninos de 20 anos seguem trabalhando, mas terão uma aceleração na formação. Alguns, subirão ou serão emprestados.
Como será essa transição?
O primordial é ter avaliação precisa dos atletas, reconhecer o nível do jogador, tanto da base quanto do profissional. Temos de saber quem tem potencial para subir, quem tem mercado, mas não chegará ao nível do Grêmio. O atleta evolui até uma idade. Para esse, o plano é emprestar, observar e avaliar se pode voltar. Outro formato é liberar e ficar com percentual. O que não dá é formar o jogador dos 10 aos 20 anos, e ele sair sem que o clube ganhe algo além do mecanismo de formação, que é um valor baixo. É um modelo a ser seguido. Tudo para trabalhar o futebol com profissionalismo, promessa do presidente na campanha.
O departamento médico foi muito questionado nos últimos anos. Há um projeto do clube de mudar essa área e até ampliar seus espaço físico. O que será possível fazer para breve?
Hoje, o espaço atende, mas pode melhorar. Estamos atrás em nível nacional. Rodei bastante com a Seleção e pude conhecer estruturas, metodologias, processos. Claro que ninguém chegará para mudar da noite para o dia. Trabalho é a médio e longo prazo. Estamos semeando. Já iniciou-se essa parte da transformação do departamento em ciência, saúde e performance. Antes da minha chegada, trouxeram um grande profissional (Rafael Barlezze), para liderar a área, que abrange parte médica, fisioterapia, fisiologia, nutrição, massagistas. Ele coordena os processos.
O Grêmio tem 35 jogadores e orçamento para o futebol que precisa ser atendido. Qual o plano para enxugar o grupo?
Estamos trabalhando na recolocação de alguns atletas. Tem clubes buscando, mercado está aquecendo. Em algumas posições, temos mais opções, principalmente no meio-campo. O Renato está dando oportunidades a todos. Com o passar desse tempo e o feedback do Renato, podemos recolocar alguns jogadores. Podem ser feitas algumas trocas, temos de suprir carências, características diferentes do que se tem hoje. O Renato fala em 30, 32 jogadores, incluídos os quatro goleiros.