Pelé morreu. É difícil acreditar. Entender. Aceitar. Mas, infelizmente, o Rei nos deixou. É uma sensação esquisita. Ele se foi, mas está presente. Seguirá estando. Afinal, Pelé é eterno, como titulou um dos grandes filmes que retrataram sua vida. Estamos vendo partir desse plano uma daquelas figuras reconhecidas por qualquer um, dos oito aos oitenta anos, em qualquer canto do mundo.
Pelé é como Einstein, Gandhi, Leonardo da Vinci, Martin Luther King, Muhammad Ali. Se você mostrar uma foto dele em Magadã, nos confins da Sibéria, será reconhecido. Se descer até o Canal de Beagle, lá em Ushuaia, dificilmente encontrará alguém que não saiba seu nome e sobrenome.
Pelé é tão pop que se tornou midiático antes de desenvolvido o conceito de midiatização. Ele precedeu as redes sociais. Viralizou sem cliques nem compartilhamentos, em um tempo no qual o ápice da tecnologia era uma TV a transistor. Você ligava e esperava esquentar para assistir. Quase como se fosse à lenha. Pois nesse tempo, Pelé já era famoso e tinha sido coroado.
Sua imagem é tão forte que ele segue sendo ídolo de todas as torcidas do mundo mesmo sem jogar uma partida profissional há 45 anos. Já pensou nisso? Faz quase meio século que Pelé não chuta uma bola e sua imagem de astro dos gramados é ainda maior do que nos tempos em que vestia a camisa 10.
Tudo isso mostra o tamanho da perda que tivemos neste dia. Não se foi apenas um ídolo, um craque, o melhor de todos os jogadores, o Atleta do Século, mas uma parte da história dos nossos tempos. Eu nunca pensei que esse dia chegaria, sinceramente. Pelé tem a aura de super-herói, de alguém perene, que sobrevive a tudo sem perder o sorriso. Aliás, é esse sorriso que permanecerá na nossa memória. Não me lembro de já ter visto uma foto sem esse sorriso. É uma marca, entende? (olha eu me apropriando do bordão do Rei)
Marca. Essa é uma palavra que se mistura com Pelé. A imagem do Rei do Futebol é tão forte que ele mesmo falava do Pelé em terceira pessoa. Tenho a impressão de que foi tão gigante que precisou de dois CPFs. Era o Pelé, o cara que todos víamos na TV, o garoto-propaganda de grandes multinacionais, atração em eventos mundo afora, capaz de parar tudo em qualquer lugar do Planeta, e o Edson, o sujeito que chegava em casa depois do expediente, sentava no sofá, colocava os pés na mesa de centro, usava chinelos e assistia à novela e o futebol de quarta à noite como qualquer mortal.
No fundo, quem nos deixou mesmo foi o Edson. Porque o Pelé jamais partirá de verdade. Pelé é eterno. Pelé é a Torre Eiffel que sorri e fala. Pelé é o Monte Fuji que foi eleito atleta do século. Pelé é a Golden Gate que conectou os mundos distintos. Pelé é o Cristo Redentor e a Estátua da Liberdade que se movem. Pelé, meus amigos, não é humano. Porque humanos fenecem. E ele seguirá vivo na nossa memória, na dos nossos filhos e nas dos nossos netos. Pelé é eterno. Entende?