Sempre admirei Roger pela lucidez nas colocações e em seus posicionamentos. Já era assim como jogador. Sempre foi de ideias claras e consciente do seu lugar de fala. Não era à toa. Me lembro das pré-temporadas em Canela, quando os repórteres tinham o privilégio de dividir o mesmo hotel com os jogadores. Era cena repetida. Depois do almoço, enquanto a turma aproveitava para sestear e se recuperar do treino da manhã, ele ocupava um sofá no saguão do antigo Hotel Continental e esperava o treino da tarde devorando livros.
Depois de se aposentar como jogador, ele usou o tempo livre para aprender, estudar e tentar desvendar os caminhos da ciência que virou o futebol. Em resumo, Roger é um sujeito fora da curva, com posicionamentos claros e, o principal, embasados. Uma cabeça que destoa no ambiente do futebol.
Por isso, não me surpreendeu em nada a entrevista que concedeu à agência AFP que correu o mundo nesta quarta-feira. Para você ter uma ideia, topei com ela no site do jornal boliviano El Deber, enquanto fazia uma pesquisa. Trago esse dado só para dar a ideia de como repercutiu. Aliás, no texto distribuído pela AFP, ele é tratado como "uma das vozes mais ativas do futebol brasileiro".
Roger se posicionou e tratou o racismo como deve ser tratado. Com clareza, sem meias palavras e de forma direta. Ressaltou o racismo estrutural que norteia as relações no Brasil e mascara um preconceito silencioso para quem não o sente na pele e que grita na alma de quem o sofre.
Fico aqui com a palavra de Roger, de que precisamos combater a "falsa democracia racial no Brasil", e também com a torcida de que mais cabeças como a dele emerjam nos gramados. A sociedade precisa delas usando a caixa amplificadora que é o futebol.