O caminho de Miguel Ángel Ramírez é longo, está só nos primeiros passos. Fica o amargor de mais um título perdido para o rival, fica a tristeza de seguir sem ganhar clássico na Arena. Mas ficaram também lições dessa primeira parte do ano. O Inter está em um processo ruptura, que acontece de dentro para fora.
Há a implantação de um novo modelo de gestão, com cortes de despesas, busca por novas receitas e uma mão mais racional do que passional na hora de decidir. O mesmo processo foi adotado no vestiário, com a adoção de nova ideia de jogar. Aqui, a ruptura fica ainda mais explícita. O atual grupo começou a ser montado em 2017 e tinha em seu DNA uma forma reativa de jogar.
Foi assim com Odair Hellman por dois anos. Até deu respostas, como o terceiro lugar no Brasileirão e o vice da Copa do Brasil. A vinda de Eduardo Coudet já foi uma busca para tirar o time de trás e colocá-lo à frente. Mas ficou claro com Abel Braga que esse grupo tem os moldes do jogo reativo. Foi desenhado assim. E não há nada de errado nisso, é bom deixar claro. Alcançou boas posições assim. Mas sem ganhar títulos. O desafio de Ramírez é fazer conduzir o Inter nessa longa travessia entre um modelo de jogo mais reativo para outro, totalmente propositivo.
Ela recém começou, sob intenso temporal, com raios mesmo nos momentos de vitória. Mudanças sempre incomodam e trazem desconforto. Perder o título para o rival acentuou esse vendaval. O que o Inter e os colorados não podem perder de vista é o horizonte traçado. Mesmo que ele pareça distante. Tirar os olhos dele pode deixá-lo, de fato, mais longe.
Ajustes
Mesmo que esse seja um processo de ruptura, o Inter precisa ter claros os sinais deixados por essa primeira parte do ano. Há bons valores jovens no grupo, há o acréscimo efetivo de Taison a partir de agora, mas é preciso mais. Mesmo com as dificuldades financeiras, é preciso buscar peças que agreguem ao modelo adotado.
Miguel Ramírez carece de um camisa 5 que pense mais o jogo e tenha características distintas às de Dourado. Esse jogador é fundamental para a mecânica de jogo. Também é preciso garimpar no mercado um zagueiro de qualidade com a bola e que eleve a casca do grupo. Outro ponto a ser trabalhado e analisado é a falta de vitórias pessoais no último terço do campo. O Inter precisa elevar seu repertório para jogos em que o adversário se fecha na defesa. São ajustes, normais numa construção de time.