A 10 dias da estreia na Libertadores, o primeiro rival do Inter demitiu seu técnico. O chileno Sebastián Núñez caiu ainda no vestiário, no fim de semana, depois do empate do Always Ready em 1 a 1 com o Nacional Potosí. A decisão foi anunciada diretamente pelo presidente do clube, Andrés Costa. Aliás, Costa é mais do que o presidente. Ele é o filho do dono do Always Ready, Fernando Costa Sarmiento, o responsável por tirar o clube das sombras em que estava até 2015.
Dono de universidade em La Paz, Sarmiento bancou do próprio bolso a reconstrução do clube. Em 2018, o Always Ready voltou à elite, depois de 27 anos ausente, com passagem pela quarta divisão boliviana nesse meio tempo. No mesmo ano, conforme conta o jornalista Leandro Stein, em um texto no ótimo site Trivela, o clube aceitou o convite da prefeitura de El Alto para ocupar o estádio inaugurado em 2017, com o status de ser o de maior altitude no mundo. Assim, o clube se mudou de La Paz e adotou como endereço da região metropolitana, 500 metros acima na montanha. O título nacional de 2020 foi o primeiro em 63 anos, já na casa nova.
Sarmiento assumiu no final do ano passado a Federação Boliviana de Futebol. Deixou o clube a cargo do filho.
As trocas de técnicos parecem culturais por lá também. Em dezembro, na reta final do Campeonato Boliviano, Eduardo Villegas foi demitido. Em seu lugar, assumiu o argentino Omar "Turco" Asad, um ex-atacante do Vélez e destaque daquele time campeão da América sobre o São Paulo de Telê Santana, em 1994. No banco do Vélez, estava Carlos Bianchi. Asad assinou por 30 dias apenas. Ganhou o título, mas não a renovação.
Sebastián Núñez, 38 anos, estava em sua segunda passagem pelo Always Ready. Em 2019, teve sua primeira experiência como técnico no clube recém-chegado à elite boliviana e o classificou à Sul-Americana. No ano passado, fez o mesmo no Nacional Potosí. A campanha neste ano é até razoável: duas vitórias, uma derrota e o empate de sábado (10). Porém, o rendimento do time, que investiu alto para os padrões bolivianos, desagradou o filho do dono e atual presidente.
O desafio da Libertadores
Dois episódios isolados, somados à ginástica da Conmebol para a realização de Del Valle x Grêmio, dão ideia do quanto será desafiador levar a Libertadores adiante sem sobressaltos. No domingo (11), pelo Campeonato Colombiano, o Rionegro Águilas entrou em campo contra o Boyacá Chicó com apenas sete jogadores disponíveis – entre eles, dois goleiros.
O grupo foi acometido por um surto de covid, com 14 jogadores contaminados, além de quatro integrantes da comissão técnica. Como havia sete lesionados, sobraram sete atletas para encarar o Boyacá, no jogo que o site oficial do Rionegro qualificou como "O mais desigual da história". Além de um goleiro na linha, o técnico precisou promover a estreia de um garoto da base na zaga. O Rionegro segurou o primeiro tempo inteiro, mas levou 3 a 0 no segundo.
Na segunda-feira (12), a história se repetiu na Liga Pro, o campeonato equatoriano. O Barcelona recebeu, em Guayaqui, o Aucas, que entrou em campo com apenas sete jogadores, devido a um surto de covid-19 no grupo. São dois casos isolados, mas servem para mostrar que a Libertadores, em um continente castigado pela pandemia, necessitará de um esforço hercúleo da Conmebol para cumprir sua agenda de seis rodadas em dois meses.