A chegada de Miguel Ángel Ramírez entusiasmou Fernando Carvalho. O presidente campeão mundial vê no espanhol a perspectiva de uma ruptura na forma de jogar do clube e a chance de adoção de um jogo ofensivo. Porém, ressalva que uma mudança tão radical no conceito de futebol vai requerer tempo e compreensão por parte da torcida. Também exigirá da nova direção firmeza para respaldar o novo técnico numa travessia que demandará tempo.
Por telefone, Carvalho atendeu à coluna para falar do curso de diretor executivo que ministrará, a partir do dia 30, no FootHub, espaço de estudos, inovação e discussão sobre futebol e seu mercado. O assunto era sua nova área de atuação no mundo da bola. Depois de virar consultor, nos últimos dois anos virou professor, sendo responsável por duas disciplinas nos cursos de treinador da CBF Academy. Agora, estendeu a experiência para um curso centrado em suas vivências, boas e ruins, como dirigente e que contará como convidados executivos conhecidos no mercado. Confira.
Como surgiu a ideia de criar um curso de executivo de futebol?
Sempre pensei estruturar um manual para um departamento de futebol de clube. Levei à CBF e, antes disso, à Abex (Associação Brasileira de Executivos de Futebol), para o Cícero Souza, que gostou muito. A partir daí, apresentamos à CBF Academy. Quando você chega ao clube, precisa conhecer orçamento, estrutura de pessoal, comissão multidisciplinar. Só depois disso, passa para a etapa da construção do grupo de jogadores. Começo o curso com um resgate histórico, de como surgiu o executivo, lá com o Antônio Carlos Verardi, no Grêmio, o Carlos Duran, no Inter, o Isaías Tinoco e o Paulo Angioni, no Vasco. Eles faziam de tudo, desde matricular os filhos dos jogadores na escola até cuidar das contrações e da renda do jogo.
Por que a função de executivo ganhou tanta importância no futebol?
É isso que mostramos no curso, nesse manual que desenvolvemos. O executivo precisa conhecimento de planejamento, de preparação física, de legislação esportiva, de mercado, entre outros pontos. Claro que contará com especialistas em cada área, mas é ele que comanda todas elas e as interliga.
Você vai ser o professor em todas os módulos?
Para cada segmento do curso, convidei um executivo. A primeira aula será com o Alexandre Mattos, que dará uma visão geral da função. O Jorge Macedo, hoje no Ceará, falará da montagem de grupo. O Felipe Ximenes, de estrutura do clube, o William Thomas, do Athletico, tratará sobre logística. Entre outros que participarão. As participações deles serão no meio e no fim de cada módulo. Serão 18 aulas e 12 módulos.
Você atua como consultor de clubes e também para um grupo de investidores. Mas essa experiência de dar aula, como tem sido?
No curso de treinadores da CBF, sou professor em três disciplinas. Aliás, esse curso será exigido também para executivos ali na frente. Em outras disciplinas, sou mentor, intervenho para fazer observações e contar algumas histórias que aconteceram comigo. As que deram certo e aquelas que deram errado.
Ou seja, fala do Mundial do Barcelona, mas também do Mundial do Mazembe.
Sim, claro. Estou gostando muito de dar aula, aprendendo e convivendo com professores muito atualizados. Tem sido gratificante transmitir meu conhecimento empírico. Quando começo, digo que não ouvirão apenas histórias de sucesso. Haverá sabores e dissabores. Já fiz o certo e deu errado e vice-versa. Você aprende mais quando erra do que quando acerta. Tem Mazembe, tem Segunda Divisão, tem Yokohama e Libertadores.
E o Inter? O que está achando da chegada de Miguel Ángel Ramírez?
É uma deia nova, uma troca na cultura dos últimos anos do clube. Ele (Ramírez) terá de treinar muito, para que sua ideia prevaleça e tenha efeito. Vejo com bons olhos, gosto desse tipo de futebol. Toda montagem de time é composta de estágios. Há o inicial, depois vem um segundo momento e aquela etapa final. A nova direção precisa saber conviver com os estágios que essa mudança na forma de atuar terá de cumprir. Saber conviver com o revés e ter convicção de ir adiante, dar o suporte. Alguns jogadores precisarão se adaptar, e a direção terá de fazer a defesa de sua ideia de jogo com clareza nas palavras, para que o torcedor entenda. Nada é definitivo, nenhum técnico chega e faz com que os resultados sejam imediatos. Vou defender o trabalho do Ramírez enquanto ver que ele estará evoluindo. É preciso defender o processo.