O sucesso do projeto empresarial do Independiente del Valle já é conhecido por aqui. Não poderia ser diferente. Afinal, em nove anos de trabalho, os investidores que assumiram o clube em 2007 o levaram à final da Libertadores. Em 11 anos, à conquista da Copa Sul-Americana. A vinda de Miguel Ángel Ramírez ao Inter e o confronto com o Grêmio por vaga na fase de grupos nos aproximarão mais de um dos clubes mais emergentes do continente. Um êxito que, logo, pode se replicar lá na Europa. Os investidores do projeto do Del Valle compraram 49,9% das ações do Numância, clube que disputa a Segunda B, a terceirona da Espanha.
O negócio foi anunciado na Espanha em fevereiro. Franklin Tello, presidente do Del Valle, e seus sócios, também empresários, Juan Carlos Serrano e Michel Deller, estariam em conversas para aumentar o percentual acionário e se tornarem majoritários nas decisões do clube. O próprio dono do Numância, o espanhol Moisés Israel, confirmou que os investidores equatorianos teriam sido chamados a participar mais da gestão do clube.
Ou seja, o modelo do Del Valle será replicado no clube espanhol. O primeiro objetivo é fazê-lo subir de divisão. No horizonte, está o plano de ter na La Liga um entreposto próprio na Europa para colocar as principais joias formadas no CT de Sangolqui, cidade a 30 quilômetros de Quito. Assim, em vez de fazer o negócio de uma promessa sul-americana, os equatorianos venderiam um jogador já com selo europeu – com a inflação no preço que isso gera.
Em janeiro, o Del Valle vendeu duas de suas principais revelações. O atacante Moisés Caicedo, 19 anos, foi para o Brighton por 5 milhões de euros. O lateral-direito Ângelo Preciado, 22 anos, saiu por 1,2 milhão de euros para o Genk-BEL. Ou seja, se repetissem na Espanha, em um clube com o mesmo modelo de gestão e a mesma segurança que têm no Equador, poderiam render muito mais euros.
A conexão do Del Valle está na base do seu modelo de negócio. Os empresários que assumiram o clube, no começo dos anos 2000, quando ainda era Independiente José Teram, foram buscar conhecimento em La Masia, a categoria de base do Barça, na Academia Aspire, que, embora seja obra do governo do Catar, usa métodos e cabeças espanholas. Pep Guardiola e Johann Cruyff foram usados como consultores.
O Centro de Alto Rendimento construído em Sangolqui tem muito dessas influências. Até 2007, o clube jogava as divisões regionais. Só em 2007 chegou à Segunda Divisão e, em 2010, à elite equatoriana. Desde 2018, essa influência espanhola passou a ser mais presente no campo, com a chegada do técnico Israel Rescalvo. Sua saída para o Emelec abriu espaço para Miguel Ramírez trocar a coordenação da base pelo time principal. Seu sucessor foi um português, Renato Paiva, mas que também tem histórico na base. Por 16 anos, comandou times de formação do Benfica.