Dinho segue ligado no Grêmio. Mas à distância. Hoje, o ex-volante que adotou o Rio Grande do Sul como endereço se divide entre Atlântida e Porto Alegre. Mas pode-se dizer que passa mais tempo na praia. As vindas à Capital são pontuais, como na sexta-feira, quando veio almoçar com Paulo Nunes, que estava na cidade para comentar Grêmio x Palmeiras, pelo Brasileirão.
Especialista nesse jogo e personagem dos grandes confrontos de 1995 e 1996, Dinho contou para a coluna alguns bastidores daquelas partidas. E também dos desdobramentos que eles tiveram muitos anos depois, quando, já aposentado, se encontrou com Válber numa casa noturna de Porto Alegre. Confira a conversa do ex-volante com coluna.
Você foi protagonista naqueles confrontos de 1995 e 1996. Vê alguma semelhança neste Grêmio e Palmeiras de 2019?
Nós tínhamos um grupo fechado para caramba, sabíamos que não era dos melhores do Brasil, mas incomodava muita gente e sempre chegava às finais dos campeonatos. A situação é meio parecida com a atual. Há pouco tempo, o Palmeiras era apontado como o melhor time do Brasil. Aliás, ainda está entre eles. O Grêmio, por tudo que vem fazendo nesses quase três anos com o Renato, briga sempre por títulos e também está entre os melhores do país. É cenário muito parecido com o daqueles anos de 1995 e 1996. O time não tem os craques, como se dizia também naquela minha época. E o Palmeiras, hoje, tem dois times, pode-se dizer, titulares. Naquele período de 1995, 1996, era a base da Seleção. Os jogos entre Grêmio e Palmeiras serão sempre difíceis. Há uma rivalidade que vem daquele período. Não há favoritos nesse confronto da Libertadores.
Vocês se preparavam de forma diferente para enfrentar aquele Palmeiras de Rivaldo, Evair, Roberto Carlos...
A preparação era diferente, lógico. Na época, o Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Grêmio eram os melhores do Brasil. Quando íamos enfrentar um desses, principalmente o Palmeiras, pela rivalidade, era diferente, sim. O pessoal do eixo Rio/São Paulo sempre dava o Palmeiras como favorito. Éramos o time que só marcava duro, dava porrada, jogava feio. Sabíamos que não era assim. Tínhamos um jeito de jogar, que depois muitos copiaram. Foi se criando aquela rivalidade entre Palmeiras e Grêmio. Por isso, a preparação era diferente, era como se fosse decisão. Eles eram praticamente a Seleção, quase todos eram convocados. Mas sabíamos que era de igual para igual em qualquer campo. Lá dentro era diferente.
Vocês davam uma segurada na semana, evitavam as saídas à noite e concentravam mais para pegar o Palmeiras?
A gente conversava muito, eu o Adilson, o Goiano, aquele grupo dos mais experientes. Os cuidados eram os mesmos. A concentração é que era três dias antes. No restante, fazíamos o de sempre. Agora, no subconsciente, sabíamos que era diferente. Lá no fundo, tínhamos noção disso. Eu já sabia que teria problemas em campo (risos). Não aguentava mais jogar contra o Palmeiras, toda hora cruzávamos com eles. Já ia dormir pensando em Palmeiras.
O Felipão prendia vocês antes porque sabia da sede daquele time, não?
(Risos) Ele sabia o porquê de fazer isso. É que tinha alguns indivíduos que exageravam. Não vou dizer o nome, mas vocês sabem a quem me refiro (risos). Por isso, tinha de prender todo mundo. Por causa de alguns, os outros tinham de ficar concentrados três dias.
Não tem como falar de Grêmio x Palmeiras sem lembrar daquela briga com o Valber (no jogo de ida das quartas da Libertadores de 1995). Vocês se encontraram mesmo 10 anos depois numa balada aqui em Porto Alegre?
É verdade, eu me encontrei com ele mesmo. Foi no Dado Bier, ali perto do (Shopping) Iguatemi. Estávamos eu, o Rivarola, o Arce, o Miguel em um camarote. Ele estava em outro, com uns amigos. Nos cumprimentamos. Só que comecei a tomar um espumantezinho. Lá pelas tantas, eu não aguentei. Me lembrei do acontecido naquele jogo no Olímpico. Ele não passava por mim, dava uma volta para ir no banheiro, estava se esquivando. Fiquei com raiva. Fui lá embaixo e tentei conversar com ele. Os seguranças não deixaram. Deu só para iniciar a conversa. Não deu para terminar o serviço (risos).
Depois disso, vocês voltaram a se cruzar?
Sim, encontrei-o em Recife, cinco ou seis anos depois. Estávamos na praia, conversamos e ficou tudo tranquilo.
Este Palmeiras do Felipão não te lembra muito o Grêmio de 1995 no estilo de jogo?
Não tenho dúvida disso, não. Vejo o Palmeiras e já penso no time da gente. É a cara do Felipão. O Palmeiras é igual ao time da gente. A diferença é que eles têm dois times para jogar, e a gente tinha os titulares e o Banguzinho. Além do estilo parecido, é só você olhar as peças, são muito semelhantes às de 1995.
Você sente saudade daqueles anos de 1995 e 1996?
Tenho saudade, sim. Mas de jogar, não de tanta viagem e concentração. A gente não parava em casa. Mas sinto falta do ambiente, dos meus amigos, da turma de 1995. Ah se eu pudesse voltar no tempo... Mas sei que isso é impossível.
Para encerar, o que você está achando do seu amigo Paulo Nunes como comentarista?
Achei que não ia se sair tão bem. Na sexta-feira, estivemos juntos, ele veio para comentar o jogo do Grêmio. Ele está me surpreendendo. Falo isso para ele. Achei que ele ia se soltar, falar aquelas besteiras que sempre costuma falar (risos). Estou gostando de ver o Diabo Loiro trabalhando na TV.
Ou seja, ele não é só mais um rostinho bonito na TV.
Não (risos). Mas antes ele passa aquele pó na cara, aquela base, para dar uma melhorada.