Vincent Kompany, 33 anos, é o Manchester City. É o exemplo de sucesso de um clube que ganhou títulos e alma. Na segunda-feira (6), quando os caminhos da vitória sobre o Leicester e do iminente título da Premier League pareciam fechados, o zagueiro belga avançou com a bola. Como o adversário se entrincheirou em sua área, ele avançou mais um pouco. Ao seu lado, o argentino Agüero, 18 gols no campeonato, implorou em inglês:
— Don't shoot, Vinny! Don't shoot! (Não chute, Vinny! Não chute!)
Kompany, é claro, chutou. E fez um golaço. Há momentos em que só os grandes resolvem. Podem acreditar, em um grupo milionário como este de Pep Guardiola, seu capitão é o maior. Não à toa, seu compatriota, De Bruyne, no espetacular All or Nothing, diz que Kompany, se quisesse, poderia ser presidente da república. Aliás, se você ainda não assistiu a essa série que mostra o City de dentro para fora, corra para ver (está disponível na Prime Video).
A menção de De Bruyne mostra o quanto os jogadores respeitam Kompany. Não é de graça. Ele chegou ao City em 2008, antes de os xeques catarianos desembarcarem com alguns caminhões de dinheiro. Viu o clube crescer, ganhar a Premier League em 2012, a primeira em 44 anos, e sair da sombra do vizinho United. Fora de campo, Kompany foge do padrão comum do jogador.
A formação veio de casa. Filho de um ativista do Zaire (hoje República do Congo), que precisou se refugiar na Inglaterra para escapar das perseguições do ditador Mobutu, e de uma funcionária sindical belga, sempre conciliou a bola com os livros. No final de 2017, depois de cinco anos, concluiu o MBA na Alliance Manchester Business School. Buscou aprofundar-se em finanças para melhorar como empresário e potencializar o sucesso da Bonka Circus, sua agência de comunicação e publicidade com sede na Bélgica.
Por tudo isso, Kompany decidiu ignorar os apelos de Agüero e chutar a bola que deve ser a do bi da Premier League. Por tudo isso, o belga de 1m93cm é o City em pessoa.