Neste sábado (25), você pode assistir a PSG x Inter de Milão. Na sequência, ainda filar Boca x Sporting Lisboa. Tudo ao vivo e em cores, na zona leste Porto Alegre. E o mais surpreendente, só com brasileiros em campo. A primeira etapa do Mundial de Clubes da Global Stars só reflete o fenômeno da invasão dos clubes estrangeiros no quintal da dupla Gre-Nal. Além do quarteto, disputa a competição a filial do Marítimo, de Portugal, Mas a lista de forasteiros por aqui é longa. Tem desde o Orlando City até o Athletico-PR, passando pelo Santos.
Esse movimento até pode nos induzir a pensar que o objetivo é garimpar talentos. A motivação, no entanto, é outra: consolidar marca e atrair novos consumidores para seus produtos. Ou seja, abocanhar uma fatia do mercado local e cravar nova bandeira neste mundão conectado.
O avanço estrangeiro é significativo no Brasil. Só o Boca, por exemplo, conta com 49 franquias de sua escolinha por aqui. As unidades gaúchas estão em Canoas. O plano vai além de treinar. Há um trabalho para mostrar aos guris a mentalidade e a aura copeira do clube. O PSG conta com 15 unidades da sua academia espalhadas do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Os guris treinam e jogam com o uniforme oficial do clube. A inscrição garante vantagens, como facilidades para compra de ingressos (do jogo do PSG, claro) e descontos na megaloja da Champs-Elysées. Boa parte dos alunos nem vai fazer uso dessas comodidades. Mas fique certo de que portar o documento do clube de Neymar, Mbappé e Cavani faz um guri se sentir privilegiado.
O reflexo desse avanço será percebido logo ali na frente se os clubes brasileiros não agirem – e rápido. Uma escolinha não garante um futuro jogador. Mas, podem ficar certos, fideliza torcedores. Vira trunfo ao lidar com uma geração de adolescentes que passa muito mais tempo conectada. Seja jogando videogame em rede, assistindo a vídeos no YouTube, conversando no WhatsApp ou consumindo séries e, agora, futebol, em streaming.
Agregue-se a isso um cardápio à disposição com os melhores campeonatos europeus e, mais recentemente, toda sorte de esportes norte-americanos, cujo marketing seduz até mesmo quem não entende as regras. Ou seja, aquela transmissão de pai para filho da paixão clubística deixou faz muito tempo de ser predominante. Hoje, é preciso que o clube também entre em cena para captar um novo fã, o mesmo que daqui a 10 anos estará consumido no estádio e comprando os produtos na loja oficial.
– As escolinhas de clubes estrangeiros ilustram que o mercado do futebol, hoje, é das grandes corporações e não das associações esportivas. O alvo é a garotada. Elas, efetivamente, se preocupam em lustrar a marca – opina Fernando Ferreira, diretor da Pluri Consultoria.
Ferreira analisa a fundo esse mercado. Aponta o Athletico-PR como o clube mais atento para esse mercado e em um estágio avançado.
– O tema das escolinhas me incomoda pelo desleixo como é tratado pelos grandes do Brasil. Moro em Alphaville (bairro de condomínios situado ao lado de São Paulo). Aqui, há duas escolinhas do Barcelona e nenhuma do Corinthians, do São Paulo e do Palmeiras. É maluco isso – observa.
No caso de Porto Alegre, a invasão estrangeira ganha ares de desafio pelo perfil do mercado. O Rio Grande do Sul tem o maior percentual de torcedores de times locais: 94% dos gaúchos torcem para Inter ou Grêmio.
Os colorados ainda formatam um projeto para fazer frente aos forasteiros. A ideia é fazer da Escola Rubra uma rede de franquias. Já o Grêmio concentra suas energias em sua escolinha no bairro Cristal, com 1,2 mil alunos. Mas o clube trabalha com convênios. São 104 escolas conveniadas, algumas delas no Exterior – Japão, EUA, Austrália e China. Há na gaveta um plano para buscar parcerias na América do Sul. Em Porto Alegre, há apenas uma conveniada, no complexo esportivo do ex-atacante Rodrigo Mendes.
A ideia é espraiar-se mais na Capital. Afinal, tem gringo ocupando um quintal que é da Dupla.