No último sábado (30), o Austin Bold obteve a primeira vitória da sua história. Fundado no ano passado, venceu o San Antonio FC por 1 a 0, no primeiro "Central Texas Derby", o Gre-Nal da região. O gol foi de Kleber, seu segundo na USL, a segunda liga mais importante dos Estados Unidos. Por e-mail, o ex-atacante do Grêmio falou sobre seus primeiros meses no Texas.
Como surgiu a chance de jogar nos EUA?
Isso vinha se desenhando. Estava com planos de morar por aqui ou de ter a experiência de viver nos Estados Unidos. Queria oferecer para os meus filhos a oportunidade de estudar aqui. Conversei com minha mulher, e decidimos por isso. Veio no tempo certo do momento em que estamos atravessando como família.
Como tem sido o dia a dia em Austin? Qual a diferença da rotina de treinos em relação ao Brasil?
O dia a dia é muito bom. Austin é uma cidade excelente, tem tudo do que você precisa. O que muda mais é que somos o primeiro time da história de um clube (risos). É tudo muito novo. Estamos desenvolvendo toda a rotina, ajustando, adaptando. De resto, tem semelhanças. O técnico é brasileiro (Marcelo Serrano, ex-auxiliar do Coritiba). Isso aproxima em termos de metodologia de treino.
O teu time, o Austin Bold, já tentou contratar o Usain Bolt. Como funciona o plano estratégico do clube para conquistar fãs e espaço na mídia?
Vocês, da imprensa, acompanham bem e sabem como os americanos tratam os esportes. O futebol não tem o mesmo apelo que as modalidades mais tradicionais, mas cresce de forma muito rápida. Se você chegasse aqui hoje, não acreditaria que o clube foi criado no final do ano passado. A estrutura é de time consolidado, com cobertura dos treinos, transmissão dos jogos. Criaram um grande evento para a inauguração do nosso estádio, o material esportivo é atraente, os canais de comunicação sempre oferecem muita informação. Isso chama atenção das pessoas na cidade. O ambiente é muito positivo.
O dono do clube, Bobby Epstein, foi o responsável por levar a F-1 à Austin, construindo o autódromo. Quem é ele, como é a relação de vocês?
O presidente é um apaixonado por futebol. O que falam é que quase todos os presidentes de clube nos Estados Unidos já trabalhavam com outros esportes por aqui e viram no futebol uma oportunidade de negócio. Não é o caso dele, que gosta muito de futebol e até joga com o pessoal do clube. Quando construiu o autódromo, deixou espaço reservado ao estádio. Ele vinha alimentando esse projeto havia um tempo, e me sinto muito feliz de participar disso.
O estádio foi construído no interior do autódromo. Como é a experiência de jogar lá?
É diferente. Teve dias em que a gente saía do treino e via o pessoal correndo. Várias vezes, parei lá na hora de ir embora para ficar acompanhando. É uma experiência diferente sim. Sem falar no barulho. Mas não chega a atrapalhar (risos).
Como é a United Soccer League, da qual seu time faz parte? Os jogos são transmitidos como os da MLS, que vemos aqui? Qual o nível técnico?
O que os envolvidos com o futebol aqui nos Estados Unidos falam é que a USL certamente está no seu melhor momento, tanto que foi reconhecida como Divisão 2. Ela tem muito potencial para se desenvolver ainda mais. Quem organiza tem ambição, pensa grande e quer torná-la a maior, mais complexa. Como são ligas independentes, não quer dizer que ela tenha menos qualidade por ser classificada como Divisão 2. A USL pode crescer e ter tanto destaque quanto a MLS. Todo mundo quer crescer, chamar mais atenção no país. Os jogos são transmitidos pela internet. A liga se responsabiliza por cobrir e divulgar amplamente as informações de cada clube, fazendo com que haja integração grande. Estou bem feliz com o que vejo neste início, e a tendência é ficar melhor. São muito organizados.
O plano do teu clube é figurar na MLS ou seguir na USL? Como funciona na cabeça de um atleta jogar sem perspectiva de subir de liga ou atuar sem risco de rebaixamento?
Tudo dependerá do crescimento da franquia. Quem monta uma estrutura assim, quer crescer, quer sucesso. O primeiro passo é se desenvolver, consolidar o projeto e depois pensar em voos maiores. Quanto à perspectiva do jogador, é relativo. Nosso desafio é ter o melhor desempenho possível para fazer o projeto crescer e ver o que virá. Se faz o melhor, colhe bons resultados, independentemente do sistema de disputa, do clube ou do país em que está. Isso serve para o futebol e serve para a vida.
Para encerrar, nos fale de Austin. Como tem sido a vida na cidade, com a família?
A vida tem sido muito boa. O calendário daqui ajuda. Consigo passar bastante tempo com a minha mulher e meus filhos, consigo participar do crescimento deles. Há bem pouco tempo, as escolas entraram em recesso, e fomos curtir com as crianças em Orlando. Eu tenho aproveitado muito com eles. Tem sido muito bom.