Nem bem absorvemos tudo o que está acontecendo com a barragem rompida em Brumadinho e, duas sexta-feiras depois, levamos esse cruzado direto com a morte de 10 adolescentes queimados enquanto dormiam no CT do Flamengo. A morte, por si só, é uma estupidez. Imagina quando ela nos arranca um grupo de meninos que só estavam ali porque sonhavam. Tenho um filho de cinco anos e sabe qual é o sonho dele? Claro, ser jogador. Dia desses, ele me disse que, quando fosse jogador, nunca iria atuar em um clube fora de Porto Alegre. Perguntei o motivo:
– Para não ficar longe de vocês, pai.
Eu achei graça. Mas, nesta sexta-feira, quando tomei conhecimento dessa tragédia, me lembrei desse diálogo quase inocente com o meu pequeno. Senti um nó na garganta. Me coloquei no lugar dos pais de cada um daqueles jogadores do Flamengo. É impossível dimensionar a dor que sentem. Talvez eles sintam junto até uma ponta de culpa, por permitir ao filho ter saido de casa. E isso é injusto com esses pais, porque ninguém tem o direito de cercear o sonho de um filho.
Naqueles contêineres estavam 26 meninos. Só a metade deles conseguiu escapar ilesa – fisicamente, porque ninguém sai incólume de um episódio desses. Eles e as famílias que hoje choram seus filhos merecem respostas. Merecem que culpados sejam apontados, julgados e punidos. Mas vou ousar aqui dizer para você que lê esse texto neste momento no conforto de sua casa ou refrescado pela brisa do mar: nós também somos culpados. Por sermos coniventes com quem permite tanta negligência. Enquanto permitirmos tantas vidas sejam ceifadas pelo desdém de quem deveria zelar por elas, sinto-lhe dizer: seremos culpados.