Mais do que um clube de futebol, o Pachuca é um exemplo de sucesso do modelo de gestão empresarial adotado no México. O rival gremista foi comprado em 1995 do governo da província de Hidalgo pelo empresário Jesús Martínez. Foi o primeiro passo para a construção do que hoje é uma holding da bola.
O Pachuca é o principal expoente de um grupo que administra outros quatro clubes e uma universidade. O sucesso do Grupo Pachuca chegou ao ápice em 2014, quando duas de suas equipes, o próprio Pachuca e o León, decidiram o Clausura, em final que suscitou discussões no México sobre o modelo de gestão dos clubes, propriedades de grandes empresas dos mais variados ramos.
O sucesso empresarial, no entanto, até agora foi insuficiente para fazer o clube brilhar fora da América. Esta é sua quarta participação em Mundiais, mas apenas a segunda semifinal. Agora, em sete toques, entenda que clube é este que está por trás do desafiante gremista.
Grupo Pachuca
Os mexicanos do Pachuca são conhecidos como os "xeques das Américas". Não é para menos. O Grupo Pachuca controla além do adversário do Grêmio outros cinco clubes no continente. No México, é dono também do León, um dos mais tradicionais do país, e do Mineros de Zacatecas, da segunda divisão asteca.
Ainda detém a franquia dos Coyotes de Tlaxcala, mas pediu licença da temporada com o acesso à Segunda Divisão, já que teria de fazer investimento pesado no estádio para atender às exigências da Liga MX.
No Chile, o grupo adquiriu em junho de 2016 a 80% do Everton, de Viña del Mar, um dos seis mais populares do país. Um ano antes, os mexicanos haviam investido forte no Talleres, de Córdoba. O clube saiu da Federal A, a terceira divisão argentina, para a elite em dois anos.
No início deste ano, o clube se retirou do negócio, mas receberá, pelo período de seis anos, 75% dos valores obtidos pelo Talleres com vendas de jogadores formados em sua base. O Grupo Pachuca estuda investimento em outro clube sul-americano. O Once Caldas esteve na mira dos mexicanos.
Sócio de Slim
Até setembro deste ano, o Grupo Pachuca tinha como sócio o bilionário Carlos Slim, o sexto homem mais rico do mundo. A fortuna de Slim, conforme a revista Forbes, está estimada em US$ 54,5 bilhões, o que o deixa atrás apenas de Bill Gates, Warren Buffet, Jeff Bezos, Amancio Ortega, dono da Zara, e Mark Zuckerberg.
Slim detinha 30% do Grupo Pachuca através de uma de suas empresas, a América Móvil. Sua saída não significou o fim total da parceria. Ele segue com aliança estratégica. Sua empresa de telefonia seguirá produzindo e comercializando o conteúdo jornalístico produzido por León e Pachuca.
Aliás, sua entrada no negócio, há cinco anos, foi um meio de encarar as gigantes Televisa e Azteca, que detinham o monopólio na comercialização dos direitos de transmissão do futebol mexicano em canais abertos. Com Slim, Pachuca e León negociaram as transmissões de suas partidas com o canal fechado norte-americano Fox Sports.
Universidad del Fútbol
Os negócios do Grupo Pachuca se estendem também a uma universidade relacionada ao futebol. Na verdade, se trata de uma escola em todos os níveis, do ensino fundamental à pós-graduação, com todo o seu currículo vinculado ao esporte. A Universidad del Fútbol e Ciências del Deporte está totalmente vinculada ao projeto Mundo Tuzo, um CT de primeira linha para formação de jogadores.
Os jovens garimpados em todo o México moram no CT e estudam na universidade do clube. Os cursos superiores são todos voltados ao esporte, como educação física e fisioterapia. No ano passado, inaugurou o Centro de Excelência Médica, que é referenciado pela Fifa.
Tanto as escolas nos níveis fundamentais e médio quanto a universidade e os cursos de pós-graduação não são exclusivos aos atletas do clube. Pelo contrário, recebem, inclusive, alunos de outros países do continente.
Aposta na formação
O adversário gremista é o carro-chefe do Grupo Pachuca. Até porque as instalações da universidade e do CT Mundo Tuzo estão em Pachuca, capital do estado de Hidalgo. O plano de Jesús Martínez, o todo-poderoso desse conglomerado de futebol, é fazer do clube uma matriz formadora de jogadores, que abastecerá todas as suas equipes e também bancarão os custos da operação.
A meta é vender, pelo menos, dois jogadores por temporada à Europa. Neste ano, ela foi bem cumprida. Em junho, o atacante Hirving "Chucky" Lozano foi negociado com o PSV Eindhoven por cerca de 15 milhões de euros. Os mexicanos ainda receberão numa futura venda.
Lozano é figura da seleção e esteve na última Copa das Confederações. Alguns meios astecas garantem que o PSV é apenas uma ponte de dois anos até o Manchester City, de Pep Guardiola.
Quem é Jesús Martínez
Administrador de empresas, José Jesús Martínez Patiño, 60 anos, é filho da cidade de Pachuca e começou ali mesmo a montar seu império do futebol. Em 1995, comprou do governo do Estado de Hidalgo o Club de Fúbol Pachuca. Quatro anos depois, conquistou o primeiro título mexicano. Hoje, conta seis taças da Liga MX e quatro Concachampions, além da Copa Sul-Americana de 2006, pela qual decidiu a Recopa de 2007 com o Inter.
Martínez implantou no Pachuca um modelo de gestão baseado em cinco pilares: social, esportivo, acadêmico, cultural e comercial. O social está representado em mais de 380 escolas de futebol espalhadas pelo país e no Exterior, com mais de 80 mil crianças inscritas. O "Modelo Pachuca", como foi batizado, virou caso de estudo em Harvard.
Martínez, apesar de ampliar os tentáculos das suas empresas, não desliga do campo. Às vésperas da estreia no Mundial de Clubes, aterrissou em Abu Dhabi. Depois de despachar o Wydad, reclamou do calendário da competição e indagou o porquê do seu time jogar uma partida a mais do que o representante da Europa e da Conmebol.
Investimentos para o Mundial
Apontado como a contratação mais importante da história do Pachuca, o japonês Keisuke Honda, 31 anos, ainda está em débito. Em campo, não confirmou a badalação em torno de sua chegada. Ele veio sem custos, já que o Milan decidiu não renovar o contrato. Foram 92 jogos e 11 gols marcados no clube italiano. A mudança para o México encerrou uma jornada de 10 anos na Europa, com passagens ainda por VVV-Venlo, da Holanda, e CSKA Moscou. O salário de Honda, no entanto, segue padrões europeus.
O Pachuca usou parte do dinheiro da venda de Chucky Lozano para se reforçar visando à temporada 2016/2017 e, claro, o Mundial. Além de Honda, chegaram Robert Herrera, zagueiro uruguaio do Puebla; Angelo Sagal, atacante chileno do Huachipato, e Edison Puch, atacante chileno do Necaxa. O centroavante argentino Germán Cano veio do parceiro León, e o lateral Martínez, do também clube-irmão Zacatecas.
Por que Tuzos?
O apelido de Tuzos do Pachuca está ligado à história da cidade. Fundado em 1901, o mais antigo em atividade no futebol mexicano, o clube representava a diversão dos operários que trabalhavam nas minas da região. Daí, veio o apelido. Tuzo no México é uma espécie de roedor que anda sob a terra — assim como os operários mineiros de Pachuca.
Hoje, a equipe é a grande atração de uma cidade sem muitos atrativos. O Estádio Hidalgo, para 30 mil pessoas, foi erguido em 1993 e reinaugurado em 2004, em festa com as presenças de Pelé e Hugo Sánchez. Os dois cortaram a fita e tiveram setores do estádio batizados com seus nomes.