Pode-se dizer que o Oeste é um estranho no ninho na Série B. Com poucos recursos, desterrado de sua Itápolis porque o estádio não oferece condições de receber uma partida, o adversário do Inter na noite desta terça-feira, em Barueri, faz uma ginástica para se manter em atividade.
O clube pode entrar para a história do Inter caso o acesso seja confirmado. Mas uma vitória sobre o gigante gaúcho também pode representar um passo firme para os paulistas escreverem a sua própria história.
Com uma derrota apenas neste returno, o Oeste mostra que atrevimento é uma de suas marcas. Afinal, só mesmo com atrevimento que um clube sem torcida, sem grandes nomes e administrado à moda antiga por três dirigentes pode desafiar a lógica e ambicionar um lutar na elite do futebol brasileiro.
O clube que mudou de casa
O Oeste nasceu em Itápolis, em 1921. Passou quase toda a sua história entre o amadorismo e as divisões menores do Paulistão. Seu maior feito até 1993 era a conquista da Série A-3, a terceira divisão. O atual grupo que comanda o Oeste chegou em 1997. O clube estava na Quinta Divisão.
Em seis anos, o colocaram na Série A paulista. Em 2012, subiram à Série B do Brasileirão. Apesar dos resultados, desde 2015, o clube virou cigano. O Estádio dos Amaros, em Itápolis, foi vetado pelo Corpo de Bombeiros, e a prefeitura se negou a fazer os investimentos necessários. O estádio tem 500 lugares no pavilhão e os 5,5 mil restantes em arquibancadas tubulares com madeiras nos assentos.
Em 2015 e 2016, o Oeste rodou por Osasco e Barueri, onde se fixou e fez acordo cm a prefeitura para usar a Arena e o CT com três campos e boa estrutura de trabalho. Em troca, paga as taxas de uso dos locais.
O poderoso Cidão
O Oeste, nesta sua retomada, tem em Aparecido Roberto de Freitas, o Cidão, o seu homem-forte. O seu cargo, oficialmente, é diretor-executivo de futebol. Mas ele manda em tudo. Até porque é também um dos investidores do clube é o responsável pela captação de dinheiro.
Cidão é um sujeito corpulento, de voz tonitruante e sangue quente. Nos bastidores do futebol paulista, pipocam algumas histórias sobre desentendimentos com jogadores no vestiário. A mudança nas regras do Paulistão, como a limitação de inscritos, domou o seu gênio, já que brigar com um jogador significa limar uma vaga no grupo.
Em 2013, ele encarou um grupo de torcedores que protestavam com faixas em um treino, indignados com o fato de o clube estar fora do G-8 do Paulistão.
— Se eu for embora daqui, o time de vocês cai para a Quinta Divisão — reagiu.
Os torcedores tiraram as faixas e foram embora para casa.
Messi Black, o craque
Mazinho foi quase criado no Oeste. Chegou para uma peneira, adolescente, passou e morou numa república mantida pelo clube. Seu melhor momento foi no Palmeiras, em 2012. Teve participação decisiva na conquista da Copa do Brasil. Contra o Grêmio, no Olímpico, fez o primeiro gol no 2 a 0 na semifinal.
Na época, os palmeirenses, numa brincadeira, é claro, o apelidaram de Messi Black. O Palmeiras foi rebaixado, e o Messi Black rodou por Coritiba e Santa Cruz. Nos intervalos, voltava para o Oeste.
Mazinho é o grande ídolo do clube, e também um protegido de Cidão. O técnico Roberto Cavalo, prudente, armou o time para jogar em função dele. O Oeste se fecha e busca sempre os lançamentos para seu Messi Black. Que corresponde. Com 16 gols, é o artilheiro da Série B. Nesta temporada, em 53 jogos, ele conta 19 gols. Seu contrato com o Oeste vai até 30 de novembro.
O dinheiro do Audax
Nos bastidores do futebol paulista, há convicção de que o Audax salvou o Oeste. Em 2016, o clube fechou parceria com o então vice-campeão paulista. Recebeu o técnico Fernando Diniz e sua comissão, pacote de jogadores e R$ 6 milhões.
O Audax é bancado pelo milionário Mário Teixeira, ex-conselheiro do Bradesco que, ao se aposentar, adotou o futebol como hobby. No acordo com o Oeste, Mário tinha o direito de compra do clube ao final do acordo. Bastava depositar mais R$ 16 milhões. Caso não o exercesse, teria de pagar R$ 3 milhões. Foi o que aconteceu.
A parceria entre os clubes segue, com patrocínio na camisa e alguns jogadores jovens emprestados. Com o dinheiro do Audax, o Oeste se equipou para 2017. O maior salário é o de Mazinho. A média do restante do grupo fica em R$ 15 mil. Os valores de folha salarial e gastos do clube, no entanto, são guardados como segredo de Estado.
Wilson Matias e o amigo
Aos 34 anos, Wilson Matias retoma a carreira no Oeste. Ele chegou à reta final da Série A-2. Estava sem atuar desde julho de 2016, ao deixar o mexicano Dorados de Sinaloa. Sua contratação surgiu a partir de indicação do amigo e centroavante Robert, outro veterano do Oeste.
Para quem não se lembra, Roberto é aquele mesmo vice-campeão da América com o São Caetano, em 2002 e com passagens por Servette-SUI, Betis-ESP, PSV e por vários clubes mexicanos e brasileiros, o principal deles o Palmeiras. Estava no Gzira United, de Malta, antes de chegar a Barueri. Mathias estreou em julho, na 11ª rodada.
A vitória do goleiro
Rodolfo é um dos símbolos deste Oeste. E também um exemplo. Para quem não se lembra, o goleiro é aquele mesmo do Atlético-PR flagrado em 2012 por consumo de cocaína. Na época aos 21 anos, Rodolfo ficou um ano e meio suspenso.
O Atlético-PR deu todo o apoio. O goleiro passou três meses internado em uma clínica para dependentes químicos e mais um confinado no CT do clube. Em 2016 e 2016, Rodolfo foi emprestado à Ferroviária-SP, clube com o qual o Atlético-PR tem parceria. Destacou-se em São Paulo e acabou emprestado ao Oeste neste ano.
Casado, pai de dois filhos, Rodolfo está com 26 anos e vive o melhor momento da carreira. Seu contrato com o Atlético-PR vai até julho de 2018, e a tendência é de que ele seja negociado.
Entre 2010 e 2011, o goleiro teve passagem pelo Inter. Foi campeão brasileiro sub-23 no time comandado por Enderson Moreira, ao lado de Muriel Oscar e Sasha.
Série A-2 e Série B
O Oeste que luta por um lugar na elite do Brasileirão quase caiu em abril para a Série A-3 Paulista, a terceira divisão. Só escapou na penúltima rodada, ao vencer a Portuguesa por 3 a 2 com gol no final.
Na Copa do Brasil, havia caído para o Inter na segunda fase. Daquele time, seguem o goleiro Rodolfo, o meia Lídio, os atacantes Mazinho e Robert e o técnico Roberto Cavalo.
O Oeste se reconstruiu para a Série B. Buscou jogadores promissores de grandes clubes, que bancam partes dos salários. O Corinthians mandou o lateral Guilherme Romão, o zagueiro Rodrigo San e o atacante Gabriel Vasconcelos. O Fluminense cedeu, pelo segundo ano seguido, o meia Danielzinho.
Mesmo que não consiga o acesso, esse Oeste já fez história. Nos dois últimos anos, escapou do rebaixamento na última rodada. Em 2013 e 2014, ficou em 15º.