Eu acordava às 3h30 da madrugada quando estava à frente do Bom Dia Rio Grande na RBSTV. Durante a semana, o despertador do celular me arrancava da cama, sem dar chance de negociação. Apesar de toda a dificuldade, a motivação de estar à frente de um jornal tão cativante superava a tirania imposta pelo relógio. Dizer que me acostumei talvez não fosse a verdade, mas consegui manter um relativo controle da rotina durante boa parte da jornada. À medida que o ano se aproximava do fim, porém, torcia fervorosamente para que não trouxessem de volta o horário de verão. Meu organismo simplesmente não compreenderia acordar uma hora mais cedo.
Agora, o Ministério de Minas e Energia informa que está considerando retomar a medida, cancelada em 2019. Especialistas afirmam que a economia de energia é ínfima. Ressaltam que um dos maiores consumos está no uso de ar condicionado, algo que pouco mudaria com a estratégia ressuscitada.
Médicos alertam ainda para alguns prejuízos à saúde. A otorrinolaringologista e especialista em tratamento do sono, Luísi Rabaioli, relata que a transição para o horário de verão pode aumentar as chances de alteração na frequência cardíaca, elevação da pressão arterial e até de casos de acidente vascular cerebral.
No comércio, de acordo com o segundo vice-presidente da CDL Porto Alegre, Carlos Klein, não há unanimidade. Já o colega e colunista de segurança de Zero Hora, Humberto Trezzi, defensor entusiástico do horário de verão, argumenta que a medida poderia reduzir a criminalidade, pois conviveríamos mais com a luz solar.
Voltar com a estratégia suspensa há alguns anos não é uma decisão fácil. Mexe com paixões, convicções e expõe contradições. Vejo lulistas elogiando Bolsonaro pelo cancelamento do horário de verão e bolsonaristas torcendo para Lula restabelecer a medida. É de bagunçar o sono, as opiniões e até paixões políticas.
Mesmo sem grandes economias de energia e com eventuais consequências à saúde, inclino-me a me alinhar com aqueles que torcem pelo horário de verão, pelo simples e encantador argumento de termos dias mais longos e uma sensação feliz de poder aproveitar melhor os fins de tarde. No entanto, devo confessar que só na última semana mudei de opinião três vezes. Por mais que, atualmente, não me preocupe mais com o despertador na madrugada, solidarizo-me com aqueles que sofrem ao acordar cedo.