Em São Paulo, o candidato à prefeitura Pablo Marçal tem se fortalecido com uma estratégia que virou uma tendência no consumo de conteúdo na internet: os cortes — pequenos trechos retirados de vídeos maiores. Ele mesmo fala abertamente sobre isso e defende a prática. Nos debates e nas entrevistas, suas manifestações são pensadas para esses momentos. Recentemente, ele revelou que estuda o chamado "micro conteúdo" desde 2006.
— Você pode ter 10 minutos de televisão. Um corte acertado engole mil horas de conteúdo de televisão — disse Marçal.
Essa estratégia de Marçal ilustra um fenômeno mais amplo que vai muito além da política: a arte de lidar com fragmentos. Em um mundo onde o tempo é escasso, somos atraídos por pedaços de conteúdo que prometem entregar o essencial de forma rápida e envolvente.
No programa que apresento em GZH, o Conversas Cruzadas, os cortes são importantes. Separamos alguns momentos dos debates para que as pessoas tenham acesso a essas versões reduzidas. Se houver interesse no conteúdo completo, ele está à disposição. E é assim em muitos outros programas de rádio, podcast, TV e streaming.
Os vídeos curtos são um reflexo da nossa realidade: temos escassez de paciência ou tempo. Não há como brigar com uma tendência consolidada como essa. E quando não há como brigar, é preciso entender como se beneficiar ou promover uma redução de danos. Para quem produz, deve-se entregar um resumo honesto, sem descontextualizar nem prejudicar quem está se manifestando. Para quem consome, é crucial compreender que aqueles 30 segundos podem não ser suficientes para formar uma opinião definitiva.
Pensando bem, lidamos com recortes há muito tempo. Nossas redes sociais, por exemplo, são apenas uma pequena parte que decidimos compartilhar da vida. No jornalismo, cortamos entrevistas para caberem nas reportagens. Até mesmo no trabalho ou na vida social, oferecemos uma versão parcial de nós mesmos, recortada. Estamos o tempo todo lidando com partes. O importante é reconhecer o momento em que, entre tantos pedaços, vale a pena buscar a versão completa — aquela que revela não apenas flashes, mas a verdadeira essência. Afinal, há poder em um corte bem feito, mas é na busca pelo todo que descobrimos a verdadeira história. E quem sabe, seja esse o ponto em que transformamos fragmentos em uma jornada de compreensão mais profunda e satisfatória. Isso nos faz perceber: do que escolhemos ver, o que realmente ressoa na nossa realidade?