Há algum tempo, minha filha, Malu, encontrava dificuldade em prender o cinto de segurança no carro. Depois de travar uma pequena batalha, conseguiu, enfim, travar a fivela. No trajeto, contei-lhe que, anos atrás, o uso do cinto não era obrigatório. Ela se espantou e perguntou:
— E quando o carro batia?
— A pessoa era arremessada para fora — respondi.
Ela se surpreendeu e, confesso, até eu achei estranho lembrar disso. Nessa mesma conversa, mencionei outro comportamento que hoje seria inconcebível, mas que, à época, era corriqueiro: fumar nos restaurantes. O avanço foi lento. Primeiro, criou-se uma ala para fumantes dentro do mesmo ambiente. Depois, vieram os fumódromos. Hoje, nem isso mais.
Ela chegou a duvidar de todo esse passado. E, convenhamos, até nós que vivemos estes períodos custamos a acreditar. São mudanças culturais que levam tempo. E é este o ponto que encontra o título desta coluna. Nos últimos dias, um tema agitou a câmara de vereadores de Porto Alegre. Um projeto que criava uma lei para proibir a venda de animais em estabelecimentos comerciais foi votado e rejeitado.
A comunidade defensora dos animais se mobilizou em massa, assistindo com fervor as sessões em que o projeto foi debatido. Houve muita polêmica. Acompanhei o assunto de perto e admito que estava torcendo para que fosse aprovado. Nos últimos dias, firmei a convicção de que precisamos progredir neste debate. Não há como achar legal a venda de animais em lojas, como se fossem produtos. Não são.
Considero-me um defensor dos animais. Meu cachorro, Jajá, tem 12 anos, é como um filho e o amo incondicionalmente. Neste momento, alguém poderia me acusar de incoerência, já que ele não é adotado e, sim, comprado. Não de uma loja, mas de uma pessoa. Só que, em 2012, quase nada se falava sobre isso. Admito que desconhecia essa consciência, e imagino que muitos não refletiam sobre este assunto até pouco tempo. Imagina há mais de uma década.
Dito isto, me posiciono contra a venda de animais em lojas. Deixo um recado para todos que se sentiram derrotados após a votação: encarem como uma vitória. Tenho a impressão de que todo o debate criado em torno do tema marcou o início de uma transformação cultural. Daqui a alguns anos, a Malu contará aos filhos dela que se vendia cachorro em loja. E eles não vão acreditar.