Por 27 anos, José Montaury administrou Porto Alegre. Ninguém supera o "eterno intendente" em longevidade no cargo. O político do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) ficou no poder até a proibição das reeleições, acordada para acabar com a Revolução de 1923.
No Império, cabia à Câmara Municipal a administração do município, supervisionada pelo presidente da província. A proclamação da República, em 1889, mudou a organização política. Pela constituição estadual de 1891, surgiu a figura do intendente, responsável pela execução dos serviços, leis, decretos e atos. O Conselho Municipal ficou com a função de votar receitas e despesas, além de analisar as contas.
A primeira eleição direta para intendente ocorreu apenas em 1896. Nem 10% dos moradores da cidade tinham direito a votar. Escolhido pelo PRR, o engenheiro José Montaury de Aguiar Leitão não teve adversário. Curiosamente, o eleito nem estava em Porto Alegre. Ele trabalhava em comissão de demarcação de terras, adiando até a data da posse.
Em 15 de março de 1897, o engenheiro assumiu o cargo. Sob proteção do presidente do Estado, Borges de Medeiros, ficou na intendência até 15 de outubro de 1924, reeleito sucessivas vezes nas eleições controladas pelos republicanos.
No livro Pequena História de Porto Alegre (Livraria Sulina), Walter Spalding opina que, apesar de "demonstrar grande interesse pelo progresso da cidade", Montaury "pouco fez", porque foi obediente às ordens do partido e de Borges de Medeiros.
Montaury criou a Assistência Pública Municipal, o embrião do Hospital de Pronto Socorro. Em 1901, inaugurou a obra do Paço Municipal, ao lado do Mercado Público. O intendente também adquiriu a Companhia Hidráulica Guaibense, estatizando o serviço de abastecimento de água, e criou a Usina Municipal para melhorar a iluminação da cidade.
O engenheiro morreu em Porto Alegre, aos 81 anos, em 28 de setembro de 1939. Solteiro, não acumulou patrimônio. O intendente gastava seus vencimentos com jovens abandonados, criou aula de música e até a "Bandinha do Dr. Montaury". Nascido em Niterói, no Rio de Janeiro, o "eterno intendente" é homenageado com nome de rua no Centro Histórico de Porto Alegre.
Depois da Revolução de 1930, o cargo de intendente foi substituído por prefeito, inicialmente nomeado pelo governador do Estado.