No tempo das cédulas de papel, o eleitor podia anular o voto de várias formas. Movimentos de protesto contra a classe política resultaram em inusitados campeões de votos. O mais famoso talvez seja o Macaco Tião, lançado "candidato" à prefeitura do Rio de Janeiro pela revista humorística Casseta Popular. Outra celebridade do mundo animal fez sucesso antes, o rinoceronte Cacareco.
Em 1958, o bicho foi emprestado pelo zoológico do Rio de Janeiro para a inauguração do zoológico de São Paulo. Apesar do nome masculino, Cacareco era uma fêmea. O governador paulista, Jânio Quadros, queria muito ter um rinoceronte, por isso fez o pedido de empréstimo. Cacareco foi a sensação dos primeiros meses de visitação.
A fábrica de brinquedos Estrela lançou o boneco Cacareco. Com tanta popularidade, o governo de São Paulo pediu prorrogação do prazo de empréstimo e até tentou comprar o animal, que só retornou ao Rio na véspera da eleição para vereador, em 1959.
Quando deixou São Paulo, ruas apresentavam pichações da "candidatura" de Cacareco a vereador. Em um movimento de críticas aos políticos, surgiram cédulas, faixas e cartazes com o nome do rinoceronte.
O resultado das urnas virou notícia internacional. É desconhecido o número de votos, mas chegaria perto de 100 mil, considerando o total dos nulos, quase todos com o nome da estrela do zoológico. O vereador eleito com maior votação fez 10 mil votos.
Cacareco foi emprestado, em 1962, para a inauguração do zoológico de Sapucaia do Sul. Mesmo com críticas de veterinários, a estrela viajou de caminhão até o Rio Grande do Sul. Depois do retorno ao Rio de Janeiro, no final daquele ano, morreu de nefrite aguda. Na época, o diretor interino do zoológico carioca, Nilo Esteves, atribuiu a inflamação nos rins à "viagem penosa e mudança súbita de temperatura" no Sul.
O esqueleto de Cacareco está exposto no Museu de Anatomia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de São Paulo (USP).