A notícia do suicídio do presidente Getúlio Vargas desencadeou o caos nas ruas de Porto Alegre na manhã de 24 de agosto de 1954. Durante a onda de depredação no Centro Histórico, getulistas elegeram os responsáveis pela morte. Invadiram jornais, emissoras de rádio, sedes de partidos políticos, o consulado dos Estados Unidos e lojas.
Em meio a uma crise política, sofrendo pressão para renunciar, o presidente da República tirou a própria vida com um tiro no peito no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Em edição extraordinária do Repórter Esso, na Rádio Nacional, o locutor Heron Domingues leu a notícia trágica na manhã daquela terça-feira.
As rádios e o jornal dos Diários Associados foram os primeiros alvos em Porto Alegre. O jornalista Assis Chateaubriand, proprietário da rede de comunicação, era um dos principais críticos de Getúlio Vargas. O prédio do jornal Diário de Notícias foi incendiado na Rua dos Andradas, junto à Praça da Alfândega. Em frente, manifestantes queimaram máquinas de escrever, cadeiras, mesas e outros materiais.
Em outro ponto, na Rua Duque de Caxias, no alto do Viaduto Otávio Rocha, o ataque ocorreu no casarão onde ficavam os estúdios das rádios Difusora e Farroupilha. A primeira tentativa foi contida com uma barricada de móveis nas portas de acesso. A invasão ocorreu antes do início da novela das 10h na Farroupilha. Com o prédio em chamas, o radialista Gerson Borges fraturou a coluna após pular do segundo andar. O auditório da Farroupilha na Rua Siqueira Campos também foi atacado.
O jornal Estado do Rio Grande, do Partido Libertador, foi incendiado. O diretor Raul Pilla responsabilizou o governador Ernesto Dornelles devido à falta de policiamento nas ruas durante a barbárie.
Os getulistas também atacaram as sedes de partidos de oposição, cafés, lojas e a agência do National City Bank of New York. Imaginando que fosse uma empresa estrangeira, entraram nas lojas da Importadora Americana, que era uma firma brasileira. Em função do nome, nem o famoso cabaré American Boite escapou.
O Exército só tomou as ruas, a pedido do governo do Estado, depois da invasão do consulado dos Estados Unidos à tarde. A revista Manchete noticiou que três manifestantes foram mortos pelos militares. Em nota, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) pediu para as demonstrações de pesar não virarem "atos de desespero e de violência", porque Vargas era um mártir e a sua morte foi "apelo supremo à pacificação".
As rádios Farroupilha e Difusora ficaram fora do ar até o início de setembro. As emissoras lançaram campanha para arrecadar discos para o departamento musical. O Jornal do Dia publicou que "50 mil gravações, pertencentes às duas rádios, foram totalmente destruídas". Devido à destruição do prédio, o Diário de Notícia só voltou a circular em 6 março de 1955.
Outras cidades do Brasil também tiveram atos de vandalismo após a morte de Getúlio Vargas.