Horas antes de transmitir a grande vitória do Brasil contra a Holanda na Copa do Mundo de 1994, a Rádio Gaúcha fez uma das coberturas mais complexas da sua história. Em uma noite fria do inverno, perseguição policial cinematográfica apavorou a população de Porto Alegre. Mesmo não morando na cidade na época, estão na minha memória a cobertura no rádio e as imagens da RBS TV. Presidiários em fuga invadiram o Hotel Plaza São Rafael, o mais luxuoso da cidade.
Um motim no Presídio Central começou em 7 de julho de 1994, uma quinta-feira. Os apenados Fernando Rodolfo Dias, o Fernandinho, e Paulo Ricardo Lauffer, o Porquinho, tomaram como reféns funcionários do hospital do presídio. Eles exigiam a liberdade de um grupo de presos da facção Falange Gaúcha, incluindo os líderes Dilonei Melara e Celestino Linn, que estavam na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc).
Em meio às ameaças de morte dos reféns, os dois líderes, Melara e Linn, chegaram à cadeia de Porto Alegre por volta das 19h20 da sexta-feira. O motim terminou duas horas depois, quando 10 criminosos e 10 reféns deixaram a cadeia em três automóveis Gol, cedidos pelo governo do Estado. Descumprindo acordo, a polícia imediatamente começou a perseguição. Começavam as horas de terror nas ruas da cidade.
Um carro partiu em direção ao bairro Lomba do Pinheiro, onde três bandidos morreram baleados e um refém ficou ferido. Outro seguiu em direção à Zona Norte. Nas proximidades do shopping center Iguatemi, dois criminosos fugiram e um foi preso.
O terceiro automóvel, onde estava Melara, tomou o rumo do bairro Petrópolis. Na Rua Ivo Corseuil, um policial civil morreu e um refém ficou ferido em tiroteio. Um dos bandidos aproveitou para escapar sozinho.
Depois do tiroteio, seguiram em fuga Melara, Linn e Fernandinho, levando reféns. O trio fez trocas de veículos até render um taxista, que dirigia um Passat na Avenida João Pessoa, na região do Parque da Redenção.
Na época, o taxista Sílvio Nunes contou que os bandidos cogitaram rumar para Caxias do Sul ou ir ao Palácio Piratini, onde ocorria o casamento de uma filha da primeira-dama, Neuza Canabarro. Como o cerco apertava, ordenaram que o motorista seguisse ao hotel cinco estrelas.
Invasão do Plaza São Rafael
O táxi arrebentou a porta de entrada na Avenida Alberto Bins e estacionou no hall às 23h20 da sexta-feira, 8 de julho. No tiroteio, Linn foi baleado e preso. Morreria dias depois, no hospital. Um garçom ficou ferido por tiro de raspão.
Melara e Fernandinho seguiram em fuga dentro do hotel Plaza São Rafael, que sediava um congresso de psiquiatras. Muitas pessoas se refugiaram embaixo das mesas do Salão de Convenções. Hóspedes desesperados tentavam deixar o prédio, alguns apenas de pijama.
Com três reféns, duas estagiárias do hospital do presídio e uma funcionária do hotel, a dupla ficou trancada na sala. As negociações avançaram até o início da tarde do sábado, 9 de julho, quando Melara e Fernandinho se renderam.
A fuga depois do motim de 1994 terminou com quatro bandidos e um policial mortos, além dos feridos. Um episódio marcado na história da crônica policial da cidade e na memória dos moradores.
Naquela transmissão, a Rádio Gaúcha teve um reforço tecnológico para a reportagem, o telefone celular.