Notícia velha é história. O acervo de 60 anos do jornal Zero Hora permite um mergulho na memória do Rio Grande do Sul, do Brasil e do mundo. A leitura da primeira edição, publicada em uma segunda-feira, revela a vida cotidiana de Porto Alegre em 4 de maio de 1964. Empresas que já fecharam as portas. Crise política e preocupações com preços. Os cinemas de rua que desapareceram. A força do futebol e do turfe.
O novo periódico da cidade, dirigido por Ary de Carvalho, ficava na Rua Sete de Setembro, junto ao Cine Rex. O contato com setores administrativo, comercial e redação podia ser feito por dois telefones de quatro dígitos (4978 e 5864). Os irmãos Maurício e Jayme Sirotsky eram sócios desde o início, mas só assumiram o controle anos depois.
A primeira manchete de capa foi sobre a crise política no governo de Ildo Meneghetti, com afastamento de dois secretários estaduais. Na economia, a preocupação era o aumento dos preços da gasolina e de alimentos. Vejam como as notícias se repetem.
Depois de um mês da deposição do presidente João Goulart, em Brasília, estava em formação o bloco de partidos para apoiar o presidente Castelo Branco no Congresso Nacional. Por aqui, o governador Ido Meneghetti e o general Mário Poppe de Figueiredo emitiram nota conjunta dizendo que reinava "um perfeito entendimento entre o governo gaúcho e o comando do III Exército".
Zero Hora publicou a programação de 37 cinemas de rua. Imperial, Cacique, Colombo e outros 33 ficaram no passado. O único aberto hoje é o Capitólio, cinemateca mantida pela prefeitura de Porto Alegre. O Circo Hagenbeck era outra opção de lazer naqueles dias na cidade.
Canais 5 e 12 eram os únicos na televisão em Porto Alegre, com programação entre o meio da tarde e o final da noite. Na TV Piratini, à noite, o público podia assistir ao noticiário O Seu Repórter Esso e ao Grande Teatro Varig. Na TV Gaúcha, a Grande Novela Colgate e o Bola 12 eram alguns dos programas.
As notas do jornal também trazem outras curiosidades. A previsão de "tempo bom" em Porto Alegre foi fornecida pelo serviço de meteorologia da Varig. No início da manhã, o trem Minuano partia rumo à Santa Maria. Na rodoviária, cinco ônibus partiam para São Paulo e outros dois para o Rio de Janeiro diariamente. No Aeroporto Salgado Filho, operavam as empresas Varig, Panair, Vasp e Cruzeiro do Sul. Uma missa campal deu largada à campanha para restauração da Igreja Nossa Senhora das Dores. O empresário A. J. Renner estava prestes a comemorar, em 7 de maio, os 80 anos.
A rede de lojas J.H. Santos fazia promoção de travesseiro para o Dia das Mães. A publicidade da primeira edição nos faz lembrar de outras empresas que já não existem mais, como a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), a loja Ibraco e a fábrica de fogões Geral. Outro anunciante foi a Refinaria de Petróleo Ipiranga, avisando que "logo ali há um posto Ipiranga", marca que continua forte.
Nas páginas esportivas, destaque para abertura do Certame da Divisão Especial, o Gauchão, com 12 clubes. O Grêmio seria campeão naquele ano. Os resultados dos páreos do Hipódromo do Cristal também foram apresentados no jornal da segunda-feira.
O noticiário policial era repleto de notas. Os casos de maior repercussão foram de um taxista morto por ladrão e do rapto de um bebê na maternidade da Santa Casa.
Porto Alegre estava com 641 mil habitantes no censo de 1960.