Quando os brasileiros enterravam o ídolo Ayrton Senna em São Paulo, em 5 de maio de 1994, morreu em Porto Alegre o poeta Mario Quintana. Aos 87 anos, estava hospitalizado desde a semana anterior devido às complicações de uma pneumonia. Com o quadro de falência múltipla de órgãos, nos deixou às 17h20, no Hospital Moinhos de Vento. Ele ficou imortalizado pelas suas palavras, seus livros e na Casa de Cultura Mario Quintana.
Preterido três vezes para a cadeira da Academia Brasileira de Letras, o poeta, jornalista e tradutor alegretense nasceu em 30 de julho de 1906. Na cidade da Fronteira Oeste, morou os primeiros 13 anos de vida, até ser matriculado no Colégio Militar de Porto Alegre. Não concluiu o curso. O adolescente que não gostava de matemática voltou a Alegrete para trabalhar na farmácia da família. A mãe Virgínia ensinou ao filho o francês.
O jovem retornou a Porto Alegre. Na Livraria do Globo, trabalhou inicialmente desempacotando livros. Ele também atuou no jornal O Estado do Rio Grande, dirigido por Raul Pilla. Na Revolução de 1930, embarcou com as tropas para o Rio de Janeiro, onde tentaria carreira em jornais.
O destino o trouxe de volta a Porto Alegre. Trabalhou na tradução de publicações da Editora Globo. O seu primeiro livro de sonetos, A Rua dos Cataventos, foi publicado em 1940, aos 34 anos. Quintana trabalhou mais tarde na redação do jornal Correio do Povo.
O poeta não casou e nem teve filhos. Viveu em quartos de pensões e hotéis. Desde 1985, depois de quebrar um fêmur, andava de bengala, "só pelo charme". O cigarro foi companheiro desde a adolescência. Nos últimos tempos, desobedecendo ao médico, bebia longos goles de café na madrugada.
O poeta trabalhou até o último momento antes da hospitalização. Quintana deixou recomendações para o velório. Queria que as pessoas vestissem roupas claras e cantassem. Avisou que preferia a despedida na Assembleia Legislativa, pois não desejava estragar o clima festivo da Casa de Cultura Mario Quintana. Em caminhão dos bombeiros, o corpo foi levado da Praça da Matriz até o Cemitério São Miguel e Almas em 6 maio de 1994.
O sepultamento ocorreu ao som da música Felicidade, de Lupicínio Rodrigues, no momento do pôr do sol. O cronista Paulo Sant´Ana leu a poesia O Mapa, declaração de amor do alegretense a Porto Alegre. Músicos tocaram o Canto Alegretense e os presentes entoaram a "canção de ninar", uma das preferidas do poeta.
O poeta gaúcho foi homenageado em vida com o nome da Casa de Cultura Mario Quintana, pelo governo do Estado. Em 25 de setembro de 1990, o espaço cultural foi inaugurado no prédio do antigo Hotel Majestic, em Porto Alegre, onde o escritor morou de 1968 a 1980. No espaço O Quarto do Poeta, estão preservados móveis e objetos pessoais do escritor, que publicou mais de 20 livros, sem contar as antologias. Outras duas salas também apresentam itens do acervo.