O incêndio que deixou 10 mortos em uma pousada na Avenida Farrapos traz a lembrança de outras tragédias em Porto Alegre. Depois desses episódios, sempre voltaram com força os debates sobre a segurança das edificações da cidade. Abaixo, relembro três incêndios que deixaram traumas.
Lojas Renner - 1976
A maior tragédia na memória dos porto-alegrenses foi na Lojas Renner, na tarde de 27 de abril de 1976. O prédio na esquina da Rua Dr. Flores com a Avenida Otávio Rocha foi consumido pelo fogo, matando 41 pessoas e deixando dezenas de feridos. A operação de socorro envolveu aproximadamente 200 integrantes da Brigada Militar. No interior da loja de departamentos, estavam cerca de 350 pessoas, entre funcionários e clientes.
Sem hidrantes suficientes, foi necessário recorrer à água do Guaíba. Lanchas equipadas com bombas fizeram a reposição dos reservatórios. O helicóptero não conseguiu fazer salvamentos. Pelo lado de fora, nas escadas mecânicas dos caminhões, bombeiros retiraram pessoas dos andares mais altos.
Depois da tragédia, a segurança contra incêndios foi muito debatida em Porto Alegre. O prefeito Guilherme Socias Villela sancionou leis estabelecendo normas de proteção e dispondo sobre a necessidade de vistoria obrigatória em prédios para a verificação dessas medidas.
Lojas Americanas - 1973
Depois uma confraternização de encerramento do ano, quase todos os funcionários já tinham saído da filial da Lojas Americanas, no Centro Histórico, no meio da tarde de 29 de dezembro de 1973. Por volta das 15h45, o fogo começou no prédio, com entradas pelas ruas Andrade Neves e dos Andradas. Cinco funcionárias morreram.
A loja já estava fechada naquela tarde de sábado. Pouco tempo antes do início do incêndio, aproximadamente 300 funcionários foram para casa após coquetel, realizado na lancheria, no primeiro andar. As funcionárias do Departamento Pessoal ficaram na loja.
Por volta das 16h20, já com multidão acompanhando o trabalho dos bombeiros, foram ouvidas explosões no interior do prédio. O fogo consumiu o estoque, de fácil combustão. Entre os funcionários, as informações eram imprecisas sobre a causa do incêndio.
Os bombeiros mobilizaram 80 homens e 16 viaturas. Com problemas nos hidrantes, usaram as mangueiras para captar água direto do Guaíba. Em função do prédio comprido, com duas entradas, não conseguiam chegar ao ponto central, onde estava o principal foco do incêndio. Uma funcionária conseguiu pular do segundo andar e foi hospitalizada.
Os bombeiros só conseguiram entrar no prédio de noite, quando o fogo estava quase extinto. Por volta das 21h30, retiraram cinco corpos. Todos de mulheres jovens, encontradas trancadas no banheiro do segundo andar. Morreram Sueli Ferreira Lopes, 30, chefe do Departamento Pessoal; Reinildes Maria de Jesus, 25; Iracema Mengarda, 26; Maria Marli dos Santos Almeida, 28; e Marli da Silva, 27.
Inaugurada em 1962, a unidade 27 da Lojas Americanas ficava o prédio de três andares. Em outro edifício maior, construído no mesmo local, a filial já estava reaberta em 1975. A loja continua até hoje neste ponto tradicional do comércio da cidade. Na época, um curto-circuito foi apontado como a causa do incêndio.
Fulgor - 1971
Os moradores da zona norte de Porto Alegre inicialmente suspeitaram da queda de um avião. Uma coluna de fumaça podia ser avistada de longe. Ela indicava o local da explosão no bairro Navegantes, perto da Ponte do Guaíba. O depósito de fogos de artifício da empresa Fulgor foi destruído na rua Dr. João Inácio, na tarde de 3 de maio de 1971.
Os prédios vizinhos ficaram em escombros. Os pedaços de materiais foram localizados a mais de um quilômetro de distância. Os bombeiros de várias estações da cidade foram mobilizados para combater as chamas e resgatar feridos. As explosões menos intensas continuaram já com as equipes no local.
Em viaturas e carros particulares, feridos foram removidos ao Hospital de Pronto Socorro. Em frente ao HPS, logo centenas de pessoas se amontoaram em busca de informações. Na Rádio Gaúcha, a equipe médica pediu doação urgente de sangue para as vítimas.
A tragédia causou nove mortes, incluindo o dono do depósito de fogos de artifício. O cenário da tragédia era muito impactante para equipes de resgate, com pedaços de corpos espalhados por centenas de metros e em cima de prédios. Pelo menos 57 pessoas ficaram feridas e precisaram de atendimento hospitalar.
A distribuidora que explodiu funcionava em uma casa antiga, vendendo desde chapéus até fogos de artifício. O estoque de fogos era grande no dia do acidente devido à proximidade das festas de São João. O quarteirão ficou destruído, como nos ataques aéreos das guerras. Devido ao risco de novas explosões, moradores do entorno não puderam entrar por três dias nas casas que resistiram à explosão. Ao lado da distribuidora, ficava a Arrozeira Brasileira. O estoque de sacos de arroz serviu de barreira, impedindo um desastre ainda maior.