As regras nos namoros retratam o pensamento e os costumes dos primeiros imigrantes italianos no Rio Grande do Sul. O rigoroso controle, é verdade, também ocorria em famílias de outras origens nos séculos passados. Talvez você viveu esse tempo ou ouviu histórias dos seus pais e avós.
A EST Edições acaba de publicar a terceira edição do livro Imigração Italiana no Rio Grande do Sul: vida, costumes e tradições, de autoria de Rovílio Costa (in memoriam), Irineu Costella, Pedro A. Samale e Paulo J. Salame. Editado inicialmente em 1975, no centenário da imigração italiana no Estado, o texto permite um mergulho na vida dos antepassados na serra gaúcha. Com base em muitas entrevistas, conseguiram detalhar o cotidiano dos primeiros imigrantes e seus descendentes.
Entrevistado para o livro, Antônio Fiori, natural da Toscana, relatou que "o namoro comportava distância e espaço entre os namorados". Em geral, "os namorados ficavam um num lado da sala, e outro, em outro lado". Nada de sentar juntinho ou ficar de braços dados.
O namoro era iniciado com consentimento dos pais, muitas vezes, em frente à janela principal da casa. A mãe, a avó ou outro membro da família sempre ficava por perto. O casal só podia andar de mãos dadas após o noivado. O primeiro beijo normalmente ocorria no casamento.
Outra entrevistada, Isabel Ferretto Gotardo contou que, no primeiro mês, o namorado só podia ficar 15 minutos na visita. Mesmo com o aumento do tempo nos meses seguintes, "a mãe estava sempre ao lado" e o beijo antes do casamento era "considerado pecado". Os namoros eram curtos, poucos meses, antes da oficialização da relação.
O noivado era realizado na cerimônia da bênção das alianças, na igreja, na presença do vigário e dos pais dos noivos. Só razões fortes podiam quebrar um noivado, porque provocaria comentários na comunidade. Os autores do livro resumem que "a educação sexual e afetiva estava ausente do sistema familiar e social dos primeiros imigrantes".
O casamento tradicionalmente ocorria aos sábados, nas primeiras horas da tarde. Noivos saíam, em procissão, a cavalo, da casa da noiva até a cidade, acompanhados de padrinhos e convidados. Depois da cerimônia religiosa, regressavam para a festa na casa do noivo, onde muitas vezes o casal ficava morando alguns meses para "ambientação da nora com a sogra". O costume era o filho mais jovem permanecer na casa paterna e ficar com herança dos pais.
Oficialmente, a imigração italiana começou no Rio Grande do Sul em 1875.