Era janeiro de 2023 quando o recém-empossado presidente Lula discursava para um parlamento repleto de autoridades, apresentando a agenda de temas prioritários para os quatro anos seguintes. Entre eles, destaco um, negligenciado pelo governo anterior, conforme apontavam especialistas.
— O mundo espera que o Brasil volte a ser um líder no enfrentamento à crise climática e um exemplo de país social e ambientalmente responsável. (...) Não vamos tolerar a violência contra os pequenos, o desmatamento e a degradação do ambiente que tanto mal já fizeram ao nosso país.
O Inpe afirma que encerramos agosto de 2024 com o pior número de queimadas em 14 anos
Nessa fala, a crise climática foi colocada como um desafio civilizatório a ser enfrentado, ao lado de temas como a fome e a desigualdade no planeta.
Passados um ano e nove meses da posse de Lula, o país arde em chamas e sufoca em um ambiente irrespirável. Estamos diante de uma crise grave, com a disparada de queimadas — em sua maioria criminosas — e o espalhamento da fumaça, que encobre 60% do território brasileiro. O Inpe afirma que encerramos agosto de 2024 com o pior número de queimadas em 14 anos. Foram 68.635 ocorrências. É de apavorar qualquer cidadão com um mínimo senso de responsabilidade.
Responsabilidade, aliás, que deve ser cobrada também de autoridades eleitas para proteger a nação. Como pode o Congresso, que adora protagonizar um embate com o STF, achar razoável reduzir a principal verba do Ibama para prevenção e combate às queimadas? Como pode considerar normal a demora de seis anos de tramitação (e três temporadas de queimadas devastadoras, como mostrou a Folha) para votar o projeto de manejo do fogo?
E quanto ao Poder Executivo, por onde andam as promessas de janeiro de 2023? Por onde se perdeu a ideia de criar uma estrutura à altura da crise climática? Por que não contar com uma frota permanente de aeronaves para combate às queimadas? Nada sobre aumentar a pena contra crimes ambientais?
A gravidade do quadro exige medidas drásticas, uma ação imediata e um esforço conjunto. São políticas que devem ir além do Ministério do Meio Ambiente. Precisam estar na ordem de prioridades da Casa Civil, do Ministério da Justiça, do Ministério da Defesa — justamente o que não estamos vendo.
A rapidez com que o fogo se espalha contrasta com a letargia de quem jurou que ia fazer diferente.