Foi do atento economista Aod Cunha, entrevistado no programa Gaúcha Mais, da Rádio Gaúcha, que ouvi um preocupante dado sobre o pós-desastre em Nova Orleans, nos Estados Unidos. Lá, a despeito da reconstrução executada com aporte de mais US$ 120 bilhões (R$ 657,6 bilhões na cotação atual), 20% da população foi embora depois da tragédia que vitimou 1,5 mil pessoas em 2005. Dois em cada 10 moradores decidiram abandonar a região diante do episódio tenebroso que teve origem no furacão Katrina, mas foi letal principalmente pelas falhas no sistema de proteção da cidade.
E por que este número deve acender em nós um alerta importante?
É tempo de reconstrução, sim, mas é também tempo de fé no que é nosso
Porque estamos diante de um trauma violento pelo qual passou (e está passando) o nosso Rio Grande do Sul. Se é verdade que não tivemos um número de mortes tão elevado, é infelizmente real a escala territorial muito maior do episódio estabelecido em solo gaúcho, onde 90% dos municípios sofreram prejuízos pela enchente de maio. A se considerar que mais de 400 cidades foram castigadas, como assegurar que a população opte por permanecer no Estado de forma segura e confiante pelos próximos anos? Como reter talentos e mentes criativas em nossas universidades, empresas e instituições públicas?
E mais: como ser capaz de atrair investidores, conquistar novos projetos e trazer de volta o turista para nossas terras?
É um desafio tremendo. Tenho pensado muito sobre o aspecto apontado pela competente Anik Suzuki, gaúcha, à frente da ANK Reputation, em artigo publicado aqui nesta Zero Hora. Ela aponta a necessidade de darmos luz, mais do que nunca, para as marcas positivas que o Rio Grande do Sul dispõe: uma mão de obra extremamente qualificada, um parque industrial robusto, uma produção agrícola pujante, um povo acolhedor. Nossa serra gaúcha é deslumbrante – e está funcionando com todos seus atrativos! –, o Vale dos Vinhedos é espetacular e, como gosta de dizer um amigo, nossos cânions não devem em nada aos cenários gringos.
É tempo de reconstrução, sim, mas é também tempo de fé no que é nosso, de cuidarmos de quem reside aqui e de mostrar confiança para quem é de fora, a fim de fazer valer os versos da música, de “mostrar para quem quiser ver um lugar pra viver sem chorar”.