A polarização não é mais um fenômeno passageiro e nem está restrita ao calendário eleitoral. Hoje, faz parte das escolhas cotidianas e tem impacto direto nas relações interpessoais. A constatação é do jornalista Thomas Traumann e do cientista político Felipe Nunes e está exposta no livro Biografia do abismo: Como a polarização divide famílias, desafia empresas e compromete o futuro do Brasil. "Do supermercado ao restaurante, da loja de roupas ao destino das férias, cada pequena escolha é impactada pela política", diz a apresentação da obra.
O assunto foi discutido durante o programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Para dar corpo à tese, Traumann citou exemplos. Entre eles, uma pesquisa feita pela Quaest em que os entrevistados eram perguntados sobre a escolha da escola dos filhos. O instituto quis saber se a posição política dos pais das crianças e adolescentes impactaria na definição sobre o local. E, sim: 27% dos entrevistados admitiram que este é um critério.
— A pergunta era "Você escolheria a escola do seu filho e da filha em função da escolha política dos outros pais?". E sim. Você tem 27% pessoas dizendo que sim. Quer dizer, isso é horrível, vai. Você tem que escolher a escola dos seus filhos pela qualidade da escola, pelo estilo da escola. Se a forma como a educação é dada combina com a sua. Se a forma como você imagina que o seu filho vai enfrentar o mundo daqui a dez, vinte, 30 anos! Agora, fazer a escolha porque eu olho o estilo e a forma como esses outros pais atuam e "eu quero distância deles" é muito ruim. Isso é assustador — avaliou Traumann.
E observou:
— E eu lembro que um amigo leu e falou "Ah, mas olha só, é uma minoria. São só 26%". Eu digo não, meu amigo, são 27% que confessaram!
Ouça a entrevista: