Foi da primeira-dama Janja o conselho que pode ter mudado o rumo dos acontecimentos do fatídico 8 de Janeiro, quando manifestantes invadiram as sedes dos Três Poderes, em Brasília, e produziram um dos episódios mais tensos da história recente, com riscos à democracia. O bastidor foi revelado pelo documentário 8/1 — A Democracia Resiste, dirigido por Julia Duailibi e Rafael Norton.
O filme, exibido pela Globonews, mostra que a esposa de Lula insistiu para que, mesmo diante do cenário de destruição estabelecido, não houvesse a decretação da GLO (Garantia da Lei e da Ordem). A opção foi apresentada ao presidente pelo então ministro da Justiça, Flávio Dino, mas acabou sendo descartada em detrimento de uma intervenção iniciada pela Segurança Pública do Distrito Federal.
O caso foi comentado pela jornalista Julia Duailibi, em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta segunda-feira (8). De acordo com Julia, Janja estava inteirada sobre o tema (GLO) por conta da preparação e organização da festa de posse de Lula, uma semana antes. Coube a ela coordenação dos preparativos, a partir de uma equipe que contou também com o gaúcho Márcio Tavares (hoje secretário-executivo do Ministério da Cultura).
— Tinha muita gente naquela sala. Estavam lá o presidente, o prefeito Edinho Silva, assessores, ministros e ela (Janja). Ela havia sido uma das pessoas responsáveis pela festa da posse e, ali, ela acabou mergulhando neste assunto, de prever o que acontecer caso houvesse alguma manifestação, se houvesse alguma coisa grande. A partir daí ela flertou com esta ideia de que a GLO, a depender da situação, pode ser um instrumento perigoso. Porque na prática, se você tem uma situação mais tensa com os militares, neste instrumento o poder civil (o presidente) concede legalmente , formalmente, para os militares o poder de eles fazerem o patrulhamento das ruas, irem para as ruas. Então, esse era o ponto. Aí, naquele dia, quando chegou o cardápio de opções, ela levanta e fala: GLO não, GLO é golpe — detalhou Duailibi à Rádio Gaúcha.
Ouça a entrevista de Julia Duailibi ao Timeline: