Restando uma semana para acabar o ano, a coluna conversava com políticos gaúchos sobre projetos e temas que serão prioritários na agenda de 2023. Entre essas conversas, percebeu o emagrecimento de alguns deles e decidiu, por curiosidade, perguntar como havia sido a dieta.
E eis que, uma série de políticos (cujos nomes não serão divulgados), da extrema esquerda à direita, contou ser adepto do novo queridinho do emagrecimento: um medicamento que leva o nome de Ozempic. Entre deputados e deputadas, há quem esteja comprando roupas novas por conta da perda de peso. Há relatos também no Poder Executivo.
Num dos casos colhidos pela coluna, um único personagem perdeu 14 quilos.
Ozempic é o nome comercial do medicamento, cuja substância é a semaglutida. A explicação foi dada à coluna pelo Dr. Roberto Zagury, endocrinologista e coordenador do Departamento de Diabetes, Exercício e Esporte da Sociedade Brasileira de Diabetes. Sim, é importante esclarecer este primeiro ponto. O Ozempic é um medicamento que originalmente serve para tratar pacientes com diabetes tipo 2. Contudo, o uso para tratar pessoas com obesidade já foi aprovado pela FDA, agência reguladora ligada ao departamento de saúde do governo dos Estados Unidos e que corresponde à Anvisa no Brasil.
— Se tem algo que, de forma rara, atualmente, une pacientes de esquerda e direita é o Ozempic — brincou Zagury ao saber sobre o motivo do contato feito pela coluna — mas esse é um assunto que a gente pode discutir no plenário — completou.
O especialista explica que a medicação é segura, tanto que seu uso já foi aprovado pela agência norte-americana (para duas situações: pacientes com diabetes e pacientes com obesidade). No Brasil, entretanto, a Anvisa aprovou o uso somente para pacientes com diabetes. Isso significa que, mesmo que o médico opte por indicar esse medicamento para emagrecimento, o uso é chamado de "off label", ou seja, fora daquilo que está indicado na bula.
O paciente precisa ter isso bem claro.
E como o Ozempic funciona? O Dr. Zagury traduz para os leitores da coluna da seguinte forma. Basicamente, quando a gente come, a comida que ingerimos passa pelos nosso sistema digestivo. Quando ela passa pelo intestino, as celular produzem uma substância chamada GLP-1, que informa ao nosso cérebro (via corrente sanguínea) que estamos bem, que estamos saciados. Contudo, essa sensação de saciedade acaba e, logo, a gente sente fome de novo.
O que o Ozempic faz? O Ozempic nada mais é do que uma versão sintética do GLP-1 , que faz com que nos sintamos saciados por mais tempo. Assim, o paciente sente menos fome e, como consequência, acaba emagrecendo.
Apesar de não haver a indicação pela Anvisa, não há erro médico em indicar o uso do Ozempic ao paciente, desde que haja ciência desse paciente sobre não haver aprovação para essa finalidade (emagrecimento). Os médicos acreditam que a tendência é que essa indicação, tal como nos Estados Unidos, seja feita pela agência reguladora do Brasil nos próximos meses.
E como ele é aplicado? O apelido "caneta emagrecedora" é porque trata-se de uma injeção que parece mesmo uma caneta. É uma injeção subcutânea, algo que pode ser aplicado pelo próprio paciente, orientado, obviamente, pelo seu médico. Para ficar mais fácil de entender, é parecido com a aplicação da insulina. Vale sublinhar: não se trata de uma injeção intramuscular, como é o caso da vacina contra covid, por exemplo.
E quanto aos efeitos colaterais? Dr. Zagury explica que todo e qualquer medicamento possui efeitos colaterais — e que eles vêm descritos na bula. No caso do Ozempic, são efeitos leves. Os mais comuns: prisão de ventre e/ou enjoos. Cerca de 20% dos pacientes registraram. E no caso dos que tiveram, foram apenas sintomas leves.
O médico reforçou ainda a importância de que não se promova, sob nenhuma hipótese, a automedicação. Isso é péssimo, sob qualquer aspecto. Daí a necessidade de sempre consultar um médico especialista para que possa avaliar o melhor tratamento para o paciente, caso a caso.