A eleição para o governo do Estado do Rio Grande do Sul confirmou um histórico de reviravoltas que a disputa ao Piratini costuma ter. A memória às vezes não nos ajuda, mas a coluna faz questão de lembrar: das últimas cinco eleições para governador, em apenas uma o candidato que aparecia como líder nas intenções de voto em agosto venceu em outubro (2010). Em todas as outras quatro, o líder saiu derrotado.
E mais, em três delas, esse mesmo líder das pesquisas sequer chegou ao segundo turno: Ana Amélia, em 2014; Germano Rigotto, em 2006; e Antônio Britto, em 2002.
Mas claro que há outras razões para além de uma tendência histórica. A primeira delas é a inegável vitória do bolsonarismo nas urnas.
Errou feio quem apostou que o presidente da República estava em baixa e que seus aliados teriam desempenho pífio. A quantidade de ex-ministros eleitos para o Congresso não deixa dúvidas. O vice-presidente Hamilton Mourão, por exemplo, foi eleito para o Senado no RS.
Aliás, em solo gaúcho a aprovação de Bolsonaro foi ainda mais visível. O presidente venceu com ampla vantagem sobre Lula: 48,89%, contra 42,28% em primeiro turno (em 2018, havia sido 52%). O deputado federal mais votado também é aliado de primeira hora do presidente: tenente-coronel Zucco, do PL. Ele fez nada menos do que 259.023 votos.
O bom desempenho de Onyx Lorenzoni, ex-ministro absolutamente alinhado com o presidente, está, sim, alicerçado nessa validação que o eleitor gaúcho deu ao presidente da República. Onyx foi ministro de diferentes pastas de Bolsonaro e sempre se colocou em defesa das ideias de "Deus, pátria e família".
O segundo ponto que é absolutamente importante ser considerado é que esta foi a eleição da polarização. Muito se ouviu, da mídia inclusive, sobre a viabilidade de uma terceira via, cujo desempenho passou bem abaixo da classificação de pífio. Tebet alcançou míseros 4,2% dos votos e Ciro Gomes, 3%. Soraya Thronicke e D'Ávila ficaram no zero mesmo. Ou seja: o eleitor decidiu se posicionar: ser Bolsonaro ou Lula.
E em que contexto isso respinga na eleição gaúcha? Quem apoiou um dos dois candidatos cresceu. Onyx consolidou a liderança apoiado no bolsonarismo. Edegar Pretto passou de míseros 5%, no início da campanha, para surpreendentes 26,77% em 2 de outubro. E ficou a apenas 2 mil e poucos votos de passar Leite e conseguir a vaga para o segundo turno. Pessoas próximas ao candidato petista atribuíram a ascensão a justamente uma vinculação do nome de Pretto com o do ex-presidente. Em tempo: agora no segundo turno, Leite se posicionará no embate Bolsonaro x Lula?
Por fim e não menos importante há um terceiro ponto a ser sublinhado e que conversa justamente com essa subida de Pretto nas últimas semanas. O eleitor alinhado à esquerda ou a pautas mais progressistas, que admitia votar em Eduardo Leite, percebeu viabilidade da candidatura do PT nesta reta final de campanha. Com isso, milhares de votos que estavam com o ex-governador tucano migraram para o petista, em uma falsa esperança de ver Onyx fora do segundo turno.
Estratégia que não só não funcionou, como consolidou Onyx na primeira posição. Afinal, entre os eleitores de Onyx não houve migração alguma, todos permaneceram com o candidato de Bolsonaro. Assim, Onyx passou para o segundo turno com 37,50%, ante 26,81% de Leite, segundo colocado. Em desvantagem, Leite agora terá o desafio de correr atrás do prejuízo e buscar justamente os votos da esquerda e do PT.