O resultado das eleições no Rio Grande do Sul, no primeiro turno, surpreendeu boa parte das pessoas após encerrada a apuração nas urnas. Diferentemente do que as pesquisas apontavam, Jair Bolsonaro (PL) venceu Lula (PT) entre os eleitores gaúchos (48,89% x 42,28%), e Onyx Lorenzoni (PL) conquistou o maior número de votos (37,5%) na disputa pelo governo do Estado, avançando para o segundo turno em primeiro lugar.
A onda bolsonarista não somente não se dissipou, como foi validada pelo eleitor do RS.
No caso de Eduardo Leite (PSDB), que por pouco não ficou fora do segundo turno, esse cenário trouxe algumas preocupações importantes e que se refletirão na decisão sobre apoios nesta segunda etapa. E quais seriam os caminhos possíveis? A coluna elencará ao menos três, começando pelo mais improvável.
Apoiar Jair Bolsonaro
Este é o cenário mais improvável. Primeiro, porque Eduardo Leite teceu uma série de críticas ao presidente nos últimos dois anos e fez ações diferentes das sugeridas pelo governo federal no enfrentamento à pandemia de covid-19. Mas na política, sabe-se, as melancias se acomodam ao gosto do freguês. Romeu Zema (Novo), reeleito em Minas Gerais, também tomou posturas divergentes às de Bolsonaro na pandemia e na terça-feira (4) anunciou seu apoio ao candidato à reeleição. Caberia aqui também lembrar Sergio Moro, que voltou a se aliar ao ex-amigo-inimigo, mas sigamos ao próximo.
Guinar para a esquerda e anunciar apoio a Lula
Este é o cenário em que muitos apostavam suas fichas ainda no primeiro turno. Isto porque para vencer o adversário (Onyx Lorenzoni), qualquer que fosse o candidato precisaria dos votos do eleitor de esquerda, ou mais alinhado a pautas progressistas (direitos humanos, LGBT, etc). Vale lembrar que Edegar Pretto (PT) fez 26,7% dos votos no primeiro turno. Numa análise superficial, Leite agregaria o percentual de Pretto 26,77% (mais os 26,81% dele) e estaria reeleito.
Contudo, aqui abriremos um parêntese. Caso Leite se alie formalmente ao PT e/ou anuncie apoio a Lula, verá minguar seu percentual de votação consideravelmente. Ou seja, perde boa parte de seus eleitores. Ao longo da terça-feira, não foram poucas as mensagens de eleitores que sinalizavam: "Votei em Leite no primeiro turno, mas se apoiar Lula, mudo o voto". Isso sem contar no apoio empresarial e do PIB gaúcho, que promete desembarcar no momento em que Leite acenar à esquerda. Sendo assim, o risco é grande.
O caminho da neutralidade
Este é um caminho igualmente perigoso, mas parece o mais provável até aqui. Por que perigoso? Porque nesta eleição, as urnas mostraram que o eleitor optou por candidatos que se posicionaram no embate Bolsonaro x Lula. Os deputados mais votados não foram os "em cima do muro", nem os da chamada "terceira via". Aliás, a terceira via naufragou, com míseros 4% de Simone Tebet e 3% de Ciro Gomes. O eleitor não quis saber de meio termo.
É perigoso também porque há outro ponto a ser considerado: parte dos eleitores alinhados ao PT também sinalizam que, caso Leite não abra voto em Lula, não darão seus votos para o tucano, preferem o "voto nulo" — o que aliás contrasta com a ideia pregada nacionalmente pela campanha de Lula, que sugeria que mesmo quem não gostasse dele ou do PT votasse 13 para derrotar Bolsonaro.
Enfim, nada é simples no caminho de Eduardo Leite, que enfrentará um otimista Onyx Lorenzoni, que tem como ativo o apoio do presidente que fez 48,89% dos votos em primeiro turno no Rio Grande do Sul. A conferir.