O último debate entre os candidatos ao governo do Estado, realizado pela RBS TV nesta terça-feira (27), mostrou que o clima de paz e amor, que não tem sido visto há algum tempo no Brasil, vai se manter em casa a partir de domingo (2) no Rio Grande do Sul.
Os três primeiros colocados na disputa, conforme a mais recente pesquisa do Ipec, não economizaram nos ataques uns aos outros. O mais visado, como era de se esperar, foi Eduardo Leite (PSDB), que governou o Estado no último mandato e tenta o feito inédito da reeleição.
Contra Leite, sobraram investidas, principalmente, de Onyx Lorenzoni (PL), Edegar Pretto (PT) e Vieira da Cunha (PDT), este último com manifestações efusivas sobre educação.
O ex-governador optou por uma estratégia interessante: a cada manifestação, a apresentação de um projeto executado pelo seu governo. Contou sobre planos na área social, na área cultural e na área da segurança. Reforçou que foi a gestão dele que colocou o salário dos servidores em dia, mas reconheceu que ainda não conseguiu fazer tudo, por isso almeja um segundo mandato.
Não foi à toa. A última pesquisa Ipec revelou que 57% dos entrevistados entendem que o Rio Grande do Sul está no "caminho certo".
Também não ao acaso, os adversários atacaram justamente este trunfo do concorrente. Já na primeira pergunta, Onyx elencou áreas em que os números não são bons e disparou: "O senhor se considera, mesmo, um bom gestor?".
A tensão só cresceu dali em diante. A ponto de Leite provocar o adversário se dizendo surpreso de que ele precisasse ler o conteúdo, mesmo com 30 anos de vida pública.
Por parte de Pretto, as críticas à gestão Leite também apareceram, com a ironia de que o ex-governador apresentava "planilhas maravilhosas" que na prática não se realizavam. A investida, em uma das vezes, foi rebatida com números. Leite comparou investimentos em cultura nos governos dele próprio e de Tarso Genro (PT). Pretto insistiu na ideia de que as planilhas eram distantes da realidade.
No caso de Onyx e Pretto é importante sublinhar, ainda, que a identificação com as candidaturas nacionais foi ressaltada por ambos, no debate. Em absolutamente todos os momentos. Restava uma oportunidade, Pretto soltava: "Sou o candidato do Lula". Onyx, por sua vez, defendeu com unhas e dentes o governo do presidente Jair Bolsonaro, desde o primeiro instante. Inclusive, comparando os dados de crescimento do Brasil, frente aos do Estado do Rio Grande do Sul.
A estratégia pode parecer cansativa a um olhar superficial, mas os dados mostram que não. Onyx cresceu com a força do bolsonarismo em solo gaúcho, algo que Luis Carlos Heinze (PP), por exemplo, não conseguiu fazer. Cabe lembrar que em 2018, Bolsonaro fez 52% dos votos válidos em primeiro turno no RS, ou seja, teria sido eleito em primeiro turno caso a eleição fosse somente aqui. Hoje, Bolsonaro e Lula estão praticamente empatados no Rio Grande do Sul, no limite da margem de erro: Lula, 41%; Bolsonaro, 37% (conforme o Ipec).
No caso de Pretto, a campanha petista se encheu de esperança a partir do crescimento mais expressivo entre os candidatos até aqui. Na última pesquisa, o petista saltou de 10% para 15% das intenções de voto (ainda distante 10% do segundo colocado, Onyx). Assessores próximos creditam a subida à associação feita pelo eleitor entre Lula e Edegar. Os jingles da propaganda partidária reforçam isso a todo instante.
Voltando aos embates, há de se sublinhar que a tendência é que os ataques entre os adversários só se esparramem ladeira abaixo a partir de domingo, com a formação de segundo turno. Uma pena. É cansativo e também ruim para a democracia que o clima belicoso se estabeleça desde já, com uma guerra entre os concorrentes, em vez da apresentação de propostas. Resta saber se o eleitor aprovará esse tipo de postura, diante de um cenário em que a eleição presidencial também se mostra distante de um debate propositivo.