Tal como quando Rosa Parks recusou-se a ceder lugar em um ônibus a um homem branco nos Estados Unidos, em 1955, a decisão tomada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) já é um marco histórico na luta antirracista. Nessa quinta-feira (14), a instituição decidiu pelo desligamento de um aluno que, conforme investigação da Polícia Civil que concluiu pelo seu indiciamento, "discriminou toda a integridade de uma raça", a partir do envio de mensagens de teor racista à namorada de outro aluno da universidade, que é negro.
No caso de Rosa Parks, o absurdo precisa ser lembrado. Até aquele ato, no não distante ano de 1955, as primeiras filas de assentos nos ônibus em Montgomery, capital do Alabama, eram reservadas para os passageiros brancos. É isso. Os brancos achavam que havia superioridade por conta da raça e por isso não permitiam que os negros se sentassem.
Naquela ocasião, a decisão de Parks não foi aceita, nem de longe. Ao contrário. O motorista (um homem branco) levantou-se e foi até onde ela e outros três negros estavam sentados. De pronto, exigiu que se levantassem para dar lugar para a pessoa branca. Parks se negou a cumprir a ordem que, cabe lembrar, era a regra vigente (o que nos faz refletir sobre o racismo praticado pelo Estado). Assim, continuou sentada e, por simplesmente desejar se sentar, foi detida e levada para a prisão.
Uma mulher foi presa porque ousou desafiar a ordem vigente, ao reivindicar direitos iguais.
Passados 67 anos, evoluímos, é preciso reconhecer. Mas há quem ainda acredite, de forma criminosa, que a raça de um ser humano define lugares em que ele pode se sentar. O racista, no caso da UFRGS, enviou mensagens à namorada de um estudante negro, em que chegou ao absurdo de questionar sobre futuros filhos do casal e a suposta perda da "carga genética prussiana".
Como observou o professor Lúcio Antônio Machado Almeida, à frente do Grupo Antirracista da UFRGS, ao mencionar Keith Lawrence e Terry Keleher, no ensaio Chronic Disparity: Strong and Pervasive Evidence of Racial Inequalities. Poverty Outcomes. Structural Racism, "é possível concluir que o racismo estrutural parte do pressuposto da superioridade da raça branca, que se desenvolve com a noção moral distorcida da superioridade e supremacia branca".
A Universidade acerta ao se posicionar de forma enfática contra qualquer ideia absolutamente perversa de "superioridade" ou "supremacia branca". Em tempos em que o óbvio precisa ser lembrado - de que uma mulher, por exemplo, não pode ser estuprada nunca, muito menos numa sala de parto - a decisão entra para história como um compromisso absoluto no combate ao racismo e atos de discriminação. Um acerto. Quem não se posiciona em casos como esse, opta por tomar um lado: o lado do opressor.