No capítulo mais explícito do fisiologismo até aqui — que de longe não é novidade em Brasília —, o presidente da República, Jair Bolsonaro, confirmou na manhã desta terça-feira (27) o convite ao senador Ciro Nogueira (Progressistas) para chefiar a Casa Civil. Foi o próprio Ciro quem comunicou a novidade pelas redes sociais: "Acabo de aceitar o honroso convite feito pelo presidente".
Ciro é presidente nacional do PP e sua maior credencial é dar as cartas no grupo político conhecido como Centrão, que tem numeroso conjunto de deputados e senadores. Com o movimento, Bolsonaro faz um afago generoso em sua base de sustentação no Parlamento, sabendo que precisa de votos para aprovar suas ideias no Legislativo, como por exemplo, a indicação de André Mendonça para uma vaga no Supremo Tribunal Federal.
Além disso, nunca é demais fortalecer a costura política quando dezenas de pedidos de impeachment rondam o gabinete do presidente da Câmara, Arthur Lira, que não por coincidência é do mesmo Centrão afagado por Bolsonaro.
A condução do grupo ao coração do Planalto pela porta da frente expõe um comportamento repelido durante a campanha pelo atual presidente: dar ministério em troca de votos. Para se manter no poder, Bolsonaro aceitou lotear ministérios e já admite sancionar R$ 4 bilhões para o fundão eleitoral.
Contrasta com o discurso fanfarrão de 2018, quando o general Augusto Heleno cantou: "se gritar pega Centrão não fica um meu irmão", numa alusão ao comportamento pouco republicando do agora neoaliado.
No pódio montado pelo presidente, a medalha de ouro concedida a Ciro Nogueira tem um objetivo final: pavimentar o caminho a reeleição em 2022. Sim, Bolsonaro só pensa naquilo e está disposto a entregar os dedos e os anéis para ser reconduzido ao Planalto no ano que vem. A conferir se o eleitor se manterá fiel ao capitão diante das companhias escolhidas para acompanhá-lo na jornada.