O depoimento do presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, na CPI da Covid nesta terça-feira privilegiou um campo pouco valorizado nos espaços do bolsonarismo raiz: a ciência. Amigo próximo do presidente, Barra Torres não se furtou em dar opiniões com embasamento científico, defendeu o uso de máscara e se declarou expressamente contra qualquer tipo de aglomeração durante a pandemia.
Barra Torres mostrou-se diferente de Queiroga, o quarto ministro da Saúde da gestão de Bolsonaro, que também esteve no centro dos questionamentos de senadores, em Brasília. Enquanto o titular da pasta se esquivou ao ser questionado sobre cloroquina, o presidente da Anvisa não fugiu da raia. Confirmou a reunião em que houve sugestão para alteração da bula do medicamento e afirmou que tal sugestão, capitaneada pela médica Nise Yamaguchi, não tinha o "menor cabimento".
Ainda sobre a cloroquina, medicamento que chegou a ser erguido por Bolsonaro numa visita a Bagé, Barra Torres afirmou ser contra a indicação da droga, que conforme pesquisas científicas não tem eficácia comprovada contra o coronavírus.
Ao falar, Barra Torres inclusive mencionou a amizade com o presidente da República e fez questão de ressaltar divergências quanto as visões sobre protocolos para o enfrentamento à pandemia. A fala, comprometida com a ciência, rendeu elogios de parlamentares governistas e de oposição.
O capítulo de ontem da CPI precisa ser registrado como um alento diante de tanta desinformação e posturas covardes de quem se nega a prestar esclarecimentos à população, em um cenário com mais de 420 mil brasileiros mortos pela doença. Faria bem ao ex-ministro Pazuello que observasse tal postura, já que segundo apontam os bastidores ele ainda tenta articular maneiras de poder ficar em silêncio durante depoimento marcado para os próximos dias.
O Brasil merece respostas sérias. É o mínimo que um agente público pode oferecer.