A terça-feira se inicia prometendo mais um dia quente em Brasília. Para hoje é esperada a leitura do documento que instala oficialmente a CPI da pandemia, que busca investigar eventuais irregularidades por parte do governo Bolsonaro no enfrentamento à pandemia de covid-19. A leitura deve ser feita pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco.
O tema bateu forte no coração do Palácio do Planalto.
Nos últimos dias, o presidente Jair Bolsonaro partiu para cima do STF dando sinais de que a criação da CPI, determinada pelo ministro Luis Roberto Barroso, o preocupa e muito. Em um primeiro momento, dois episódios corroboram essa percepção: o vídeo em que destrata o ministro Barroso, publicamente, em manifestação a apoiadores em Brasília; e a conversa gravada com o senador Jorge Kajuru, em que chega a dizer que vai "ter que sair na porrada" contra Randolfe Rodrigues, senador e autor da proposta de criação da CPI.
Uma conversa que, aliás, tem cheiro, gosto e cor de roteiro combinado de um filme mal feito.
Nos bastidores, há um terceito ponto. Integrantes do governo - e o próprio Bolsonaro - se empenharam para tentar que parlamentares retirassem assinaturas do requerimento para evitar que a comissão pudesse ser instalada. Difícil. Atualmente, há 34 nomes apoiando a instalação da comissão, sete a mais do que o mínimo exigido.
Da bancada gaúcha, dois nomes assinaram: Paulo Paim e Lasier Martins. O senador Heinze, apoiador do governo, não incluiu seu nome.
Além disso, há o movimento para inclusão de investigações sobre governadores e outras manobras regimentais previstas pelos governistas para hoje, que possam atrasar ou mesmo tumultuar a sessão do Senado. Nada de novo no front. Quem acompanha Brasília de perto sabe que até uma pasta sumida já foi motivo de confusão.
No STF, há um outro caminho discutido reservadamente por ministros. A possibilidade de que a CPI ocorra, sim, mas não agora. Neste caso, os ministros trabalham com a hipótese de que os trabalhos da comissão sejam iniciados em um momento em que as condições sanitárias estejam menos graves, diante da pandemia de coronavírus.
O adiamento também serve a Bolsonaro, que sabe que qualquer CPI tem poder para desgastar a imagem de um governo. Basta lembrar edições como a CPI da Petrobras ou mesmo a CPI dos Correios.
O efeito prático em termos jurídicos é pequeno, mas os holofotes postos sobre uma série de eventos (recusa por vacinas, propaganda de remédios sem eficácia) e a exposição destes fatos têm poder, sim, para corroer uma imagem que já não anda lá essas coisas.
Bolsonaro tem ciência disso e está tentando não pagar pra ver.