Uma observação rápida sobre os números dispostos pelas autoridades nas planilhas que tratam sobre o coronavírus no Rio Grande do Sul, nas últimas 24 horas, deixa qualquer leitor de cabelo em pé. Em Porto Alegre, os percentuais de ocupação de UTIs se aproximam dos 100% e ainda há pacientes na fila, esperando por leitos diante do agravamento dos casos de covid-19.
Em tom uníssono, diretores de hospitais e pronto-atendimentos relatam a chegada de muitos pacientes em estado grave e chama a atenção também a maior presença de pacientes com menos de 50 anos.
Nesta terça-feira (23), a Rádio Gaúcha conversou com profissionais de saúde que atuam na linha de frente das ações de combate à pandemia. Entre eles, o chefe do setor de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento, Alexandre Zavascki.
Zavascki não economizou nas palavras ao se referir à gravidade do momento experimentado pelo Rio Grande do Sul. O profissional comparou a situação atual ao caos vivido pelo Estado do Amazonas, com a diferença de que aqui há uma estrutura hospitalar mais robusta e qualificada. Ele descreveu esgotamento e cansaço por parte das equipes e afirmou que os números expostos são "menos impactantes" que a realidade vivenciada por quem está na linha de frente.
O chefe de Infectologia do Hospital Moinhos de Vento disse que, em muitos casos, "é preciso segurar os pacientes na enfermaria porque não há leitos de terapia intensiva".
– Nós chegamos ao limite. A própria prefeitura tem um dado que aponta projeção de colapso completo do sistema em uma semana. E a gente não vê as pessoas fazendo coisas para evitar isso. [Colapso] é não ter leitos. Os gestores precisam ir até os hospitais, ver o que está acontecendo. Não é só olhar a planilha. É hora de chegar numa emergência, ver o que está ocorrendo. Vai ter impacto, não resta dúvida. A mortalidade vai subir muito. Os resultados do Rio Grande do Sul vão ser modificados. O quadro é grave. Chegam outros doentes, não só com covid. Estamos com dificuldades para acomodar os pacientes com outras doenças. É bastante desgastante – afirmou.
O quadro se repete em unidades de pronto-atendimento na Capital. Na zona norte, a UPA Moacyr Scliar precisou fechar as portas para novos atendimentos por conta do esgotamento da capacidade nesta terça-feira.
– Estamos vendo, sim, um agravamento da pandemia. É necessária a conscientização da população. Se não houver isso, fica difícil dimensionar onde podemos chegar. Estamos passando o pior momento da pandemia no nosso Estado – afirmou a médica responsável pela UPA Moacyr Scliar, Jaqueline Cesar Rocha.
Porto Alegre atingiu nesta terça um novo recorde de 388 doentes em unidades de terapia intensiva, dado verificado à noite. Trata-se de 25 pessoas a mais do que na véspera e cinco acima do teto de 383 vagas previsto pelo município para tratar infectados pelo coronavírus.