Influenciador digital com mais de 60 milhões de seguidores em diferentes redes sociais, Felipe Neto entrou para a arena política e foi parar na manchete de uma série de noticiários na última semana. O motivo? Tornou-se vítima de ataques de ódio e mensagens que o associavam ao crime de pedofilia, após disparar críticas mais ácidas contra o presidente da República, Jair Bolsonaro.
Ele já o fazia em seus vídeos no seu canal de Youtube, mas o alcance e repercussão se tornaram maiores quando da participação no programa Roda Viva, comandado pela jornalista Vera Magalhães na TV Cultura, e a partir da condução de um editorial ao jornal americano The New York Times, quando chamou Bolsonaro de "o pior presidente do mundo", referindo-se ao enfrentamento à pandemia do coronavírus.
Na semana passada, mostrou o Jornal Nacional, os ataques da esfera virtual se materializaram em frente à casa onde Felipe mora, no Rio de Janeiro. Dois homens, apoiadores do presidente, se posicionaram na entrada do condomínio e gritaram ofensas e ameaças contra o youtuber. Um deles, conforme as imagens, também participou do ataque ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, quando manifestantes utilizaram fogos de artifício para simular um bombardeio contra a suprema corte do país.
Mas, afinal, quem tem medo de Felipe Neto?
Com 32 anos, o jovem assegurou que não tem qualquer interesse em se tornar político de carteirinha. Não almeja cargos, disse em entrevista à Globonews, mas aceita participar de discussões do parlamento, como a proposta pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sobre o projeto das fake news em andamento no Congresso.
Os ataques partem, segundo a leitura do próprio e sua equipe, de uma ação orquestrada por grupos de extrema direita, com método que ele costuma classificar como "piramidal". Na entrevista à Globonews, o próprio Felipe admite que a maioria dos que compartilham as notícias falsas contra ele (inclusive, o associando ao crime de pedofilia) atende a uma convocação de um comando superior, que vai espalhando de cima para baixo uma série de movimentos muito bem organizados por redes sociais como WhatsApp e Telegram.
- Não são os robôs - ele diz - mas sim pessoas que recebem os comandos e muitas vezes são ingênuas. Acreditam na veracidade das informações - concluiu, em entrevista à Globonews.
Por conta disso, ele prefere não restringir a classificação ao chamado "gabinete do ódio", porque poderia trazer a falsa impressão de que é apenas uma estrutura única. Assim, refere-se a uma "articulação do ódio" quando muitos agentes comandam um esquema (diferentes gabinetes, portanto) com o mesmo fim.
E o que nós, mortais, temos a ver com isso?
Ocorre que opiniões contrárias a quem quer que sejam, ainda que duras, são legítimas dentro de um ambiente democrático. Acusações falsas sobre a prática de crimes, contudo, extrapolam o conceito de liberdade de expressão. Se há um grupo milimetricamente orquestrado por trás disso, o caso é, sim, de apuração e responsabilização necessárias. Daí a importância de uma apuração séria sobre o caso.
Se há algo de positivo nesta história, é que o caso do influenciador dá visibilidade a um tema que já produzia vítimas, mas não chegava ao grande público.
Ao atacar Felipe Neto, os criminosos conseguiram atingir um alvo. Mas talvez não tenham percebido que os estilhaços podem e deverão se voltar contra eles próprios.